Governo negocia com líderes religiosos, mas vê dificuldade em frear desgosto dos evangélicos
Pesquisas de aprovação da gestão petista apontam falhas de Lula para furar bolha religiosa e bolsonarista

As recentes pesquisas de aprovação do governo revelaram a ampliação de um obstáculo preocupante para a gestão de Lula: aproximação do eleitorado evangélico. Na contramão das expectativas petistas para um ano eleitoral, o segmento acumula os piores índices de rejeição desde o início do mandato.
No levantamento feito pela Genial/Quaest, a queda na avaliação negativa subiu de 46% em agosto de 2023 para 62% em março deste ano.
De acordo com a pesquisa, o descontentanento ganhou ainda mais tração após a declaração do presidente que relacionou Israel a Hitler.
Para além da fala polêmica - considerada desastrosa por integrantes do próprio governo -, o movimento aponta falhas nas estratégias de diálogo com o grupo que mais cresceu no Brasil nas últimas décadas. Os evangélicos representam hoje cerca de 22% da população, segundo dados do último Censo.
Internamente, o assunto é tratado com cautela e até certo silêncio por aliados de Lula. Ainda assim, ministros admitem a dificuldade na articulação de medidas que possam frear o desgosto do segmento, altamente contaminado pelas ideias bolsonaristas.
Ainda não saiu do papel, por exemplo, a ideia de um grande encontro de Lula com representantes religiosos no Palácio do Planalto. A agenda perdeu fôlego após a derrubada da isenção fiscal para religiosos, concedida por Bolsonaro em meio à campanha eleitoral de 2022.
O aceno do ex-presidente ao fiéis durante o ato na Avenida Paulista também obrigou o governo a recalcular o plano, articulado por governistas evangélicos no Congresso Nacional
A curto prazo, a saída para melhorar a foto com o eleitorado seria a aprovação da PEC que amplia a imunidade tributária aos templos religiosos do país. Na articulação para a aprovação da proposta, Lula conta com o trabalho de Marcelo Crivella para driblar o mau humor dos pastores.
Ainda assim, grupos que estudam o tema dentro do partido estão pouco otimistas com a melhora no relacionamento com a base evangélica, o próprio eleitor. O público formado majoritariamente por mulheres, negros e moradores das periferias do Brasil segue influenciado pelo antipetismo.
A avaliação leva em conta a expertise bolsonarista de movimentação das polêmicas que envolvem as pautas de costumes. O último desgaste veio junto com a nota publicada pelo próprio governo sobre as diretrizes para o aborto legal no país.
Apesar da suspensão da nota técnica pelo Ministério da Saúde, a medida impulsionou o disparo de fake news sobre o assunto, especialmente entre o público religioso. E comprovou que o caminho de encontro com esse eleitorado é mais tortuoso do que planejava o Palácio do Planalto.