Jussara Soares
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Jussara Soares

Em Brasília desde 2018, está sempre de olho nos bastidores do poder. Em seus 20 anos de estrada, passou por O Globo, Estadão, Época, Veja SP e UOL

Bolsonaro resgata áudio de Cid sobre delação antes de apresentar defesa

Estratégia do ex-presidente é desqualificar depoimento de seu ex-ajudante de ordens

Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)  • Valter Campanato/Agência Brasil
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No dia em que deve se manifestar sobre a denúncia da Procuradoria-Geral da República relacionada à tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) divulgou, nesta quinta-feira (6), em suas redes sociais, um áudio de seu ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, comentando sua colaboração com a Polícia Federal.

Ao compartilhar o vídeo, Bolsonaro escreveu a legenda: "Mauro Cid declara em áudio que foi pressionado a concordar com a narrativa da PF ou perderia o acordo como delator."

A principal estratégia da defesa do ex-presidente é justamente questionar a delação de Mauro Cid, que prestou 14 depoimentos no âmbito de sua colaboração premiada.

Para contestar a acusação de uma tentativa de golpe de Estado e atacar a investigação, aliados de Bolsonaro afirmam que o ex-ajudante de ordens falou sob coação.

A denúncia do procurador-geral da República, Paulo Gonet, inclui não apenas mensagens e documentos, mas também os depoimentos de Cid e outras testemunhas.

O trecho do áudio divulgado por Bolsonaro foi revelado pela revista "Veja" em março de 2024. Na gravação, o militar faz críticas à condução da Polícia Federal (PF) e ao ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF).

“Você pode falar o que quiser. Eles não aceitavam e discutiam. E discutiam que a minha versão não era a verdadeira, que não podia ter sido assim, que eu estava mentindo”, afirmou Mauro Cid na gravação.

“Eles já estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade, eles queriam que confirmasse a narrativa deles", continuou o ex-ajudante de ordens no áudio vazado.

Por causa desses áudios, Mauro Cid foi novamente preso por determinação de Moraes em 22 de março de 2024. O militar foi solto quase um mês e meio depois, em 3 de maio, por decisão de Moraes, que manteve integralmente o acordo de delação.

Ao STF, o ex-ajudante de ordens disse que o áudio se tratava de um "desabafo em momento ruim".

O prazo para Mauro Cid apresentar sua defesa sobre a denúncia termina também nesta quinta-feira (6). Procurados, advogados do militar não quiseram se manifestar.

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