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    Pedro Côrtes
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    Pedro Côrtes

    Professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e um dos mais renomados especialistas em Clima e Meio Ambiente do país.

    As causas dos incêndios na Califórnia

    Mudanças climáticas e o comportamento das pessoas explicam a dimensão dessa tragédia

    A Califórnia, assim como diversas outras regiões em todo o mundo, sofre com as mudanças climáticas e isso potencializa a ocorrência de tragédias, como os incêndios que têm sido noticiados.

    Pequenos incêndios de inverno são considerados normais em alguns biomas da Califórnia. A germinação induzida por calor ou fumaça garante que algumas espécies possam se regenerar com rapidez após incêndios.

    Elas se beneficiam da redução da competição e da fertilidade do solo enriquecido pelas cinzas. Mesmo essas ocorrências naturais têm sido potencializadas pelas mudanças climáticas e pelo comportamento humano.

     

    Seca recorrente

    As mudanças climáticas, no entanto, deixam a vegetação exposta a períodos longos de estiagem, o que tem aumentado até mesmo os incêndios provocados pela queda de raios. Los Angeles, por exemplo, tem um baixo volume anual de chuvas. Se considerarmos os últimos 15 anos, a média anual fica em 329 mm. Nesse período, apenas cinco anos tiveram chuvas acima da média. O ano passado foi um desses anos, com 404 mm (apenas 75 mm acima da média). Essa situação de aridez predispõe a vegetação ao fogo.

    Comportamento

    Levantamento do Corpo de Bombeiros da Califórnia mostra que, atualmente, 95% dos incêndios foram causados por atividades humanas. Isso inclui atos de negligência, como deixar uma fogueira sem vigilância, por exemplo. Veículos com catalisadores mais antigos ou com defeito podem provocar incêndios quando estacionados sobre um gramado. A queima de resíduos domésticos ou entulho também é outra causa.

     Ventos de Santa Ana

    Zonas de alta pressão se formam a leste das Montanhas Rochosas e geram ventos que ultrapassam essa cadeia montanhosa, descem para planaltos desérticos e se aquecem. Quando chegam à área costeira, esses ventos quentes podem atiçar, com muita facilidade, focos de incêndios.

    A intensidade dos ventos de Santa Ana tem sido tal que, não são raros, os informes dão conta de que rajadas chegaram a 160 km/h. Um valor em torno de 100 km/h tem sido “normal” nas atuais circunstâncias. Mais uma vez, têm-se os efeitos das mudanças climáticas potencializando eventos meteorológicos.

    Manutenção do entorno das casas

    Em San Diego, as autoridades estão fiscalizando as casas para verificar se o gramado no entorno está adequadamente cortado. Para isso, estão usando fotografias. Caso uma residência não tenha o seu gramado adequadamente aparado, uma multa é aplicada.

    Com o tempo seco, um gramado pode ajudar na propagação de incêndios. Trata-se de um trabalho de prevenção que deveria fazer parte do cotidiano dessas áreas.

    Fiscalização

    Mesmo com a ampliação dos trabalhos de fiscalização de focos de incêndios, a ocorrência deste ano — a mais severa já ocorrida — é tal que esses esforços não foram suficientes. Outras consequências têm sido apontadas, como a poluição, mesmo em cidades não atingidas pelo fogo. Outro problema é a contaminação das linhas de distribuição de água tratada. Diante da possibilidade de contaminação dessas águas, a população tem sido instruída a ferver a água antes do consumo.

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