Priscila Yazbek
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Priscila Yazbek

Correspondente em Nova York, Priscila é apaixonada por coberturas internacionais e econômicas — e por conectar ambas. Ganhou 11 prêmios de jornalismo

Lula deve focar em soberania, multilateralismo e Gaza em Assembleia da ONU

Em Nova York, presidente deve evocar conceitos consagrados do direito internacional para rejeitar medidas coercitivas unilaterais adotadas pelos EUA

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a Abertura do Debate Geral da 79ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, no Salão da Assembleia Geral, da Sede das Nações Unidas (ONU)
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a Abertura do Debate Geral da 79ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, no Salão da Assembleia Geral, da Sede das Nações Unidas (ONU)  • Nova York (NY), 24/09/2024 - Ricardo Stuckert/PR
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve abordar as sanções impostas pelos Estados Unidos, a defesa do multilateralismo e a questão da Palestina como temas prioritários em seu discurso na 80ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, segundo fontes do governo.

Seguindo a tradição, o Brasil deve ser o primeiro país a tomar a palavra durante a reunião, que será realizada no dia 23 de setembro, na sede da ONU em Nova York.

Em princípio, o presidente desembarcaria nos Estados Unidos no dia 21 de setembro, mas a viagem pode ser adiantada para o dia 20 a depender de compromissos que podem surgir até o evento.

Lula participará da reunião geral no dia 23, onde fará o discurso de abertura, e no dia 24 também comparecerá a duas cúpulas à margem da Assembleia, sobre democracia e meio ambiente.

Entre os tópicos prioritários do discurso de abertura, segundo fontes, estão:

  • A rejeição às medidas coercitivas unilaterais adotadas pelos Estados Unidos e a defesa da soberania;
  • A defesa da Carta da ONU, do multilateralismo e do direito internacional;
  • A defesa de reformas da ONU para garantir a eficácia da organização e manter sua relevância;
  • A implementação dos compromissos sobre reformas no "Pacto para o Futuro" - documento assinado na Assembleia de 2024 para promover mudanças de governança na ONU, ampliando a representatividade dos países -, e o "Chamado à Ação do G20", que reforça a defesa dos países por mudanças na organização
  • Prioridade à solução pacífica da questão da Palestina e a defesa da implementação da solução de dois Estados

A maior parte dos temas, como a reforma da ONU e a defesa da solução de dois Estados, são pautas tradicionais da agenda de política externa brasileira. Mas a defesa da soberania e a rejeição a medidas coercitivas unilaterais, como as tarifas e as punições impostas pelos Estados Unidos via Lei Magnitsky, serão as grandes novidades.

Fontes lembram que o Itamaraty sempre foi contrário a sanções unilaterais, a diferença é que antes essas medidas eram direcionadas a outros países e agora estão sendo também dirigidas ao Brasil. Portanto, o discurso deve seguir a linha de evocar conceitos consagrados no direito internacional para criticar as medidas recentemente adotadas pelo governo de Donald Trump.

O conceito de soberania nacional é um dos mais célebres nas relações internacionais e um alicerce da relação entre os países, por isso nenhuma nação aceita ingerência em assuntos internos, afirma um interlocutor.

Ele acrescenta que há uma visão na diplomacia de que os EUA têm o hábito de interferir em assuntos internos de outros países, desde os anos 50, começando pelo patrocínio à mudança de regime no Irã e seguindo pelas intervenções na América Central, mas agora há duas diferenças cruciais: os EUA estão fazendo isso com um país que é aliado histórico dos americanos, o Brasil; e agora estão falando abertamente que estão usando medidas coercitivas econômicas para intervir no processo político interno.

Conforme apuração da âncora Débora Bergamasco, Lula deve evitar mencionar diretamente Donald Trump ao defender a soberania e criticar as medidas unilaterais.

Conflitos na Ucrânia e em Gaza

O Brasil deve reforçar sua participação ativa na Conferência Internacional de Alto Nível para a Implementação da Solução de dois Estados, depois de ter copresidido um dos grupos de trabalhos preparatórios para a conferência.

Na cúpula, que ocorre à margem da Assembleia Geral, países como Austrália, Canadá, França, Espanha, Portugal e Reino Unido devem reconhecer o Estado Palestino. A grande expectativa sobre o evento levou o governo Trump, forte aliado de Israel, a negar vistos para autoridades palestinas, gerando duras reações por parte da comunidade internacional.

Diferentemente da questão da Palestina, as menções do Brasil ao conflito na Ucrânia devem ser mais contidas. Segundo fontes da diplomacia, a compra de diesel e fertilizantes russos pelo Brasil, a proximidade com Moscou e os contatos via Brics, tornam a posição brasileira mais ambígua.

Eventos paralelos

Diversos eventos devem ocorrer paralelamente à Assembleia Geral da ONU, ao longo da chamada "semana de alto nível".

O presidente Lula deve participar de dois deles, realizados no dia 24 de setembro: a segunda edição do evento "Em defesa da Democracia: lutando contra o extremismo"; e a cúpula sobre o meio ambiente, organizada pelo Brasil em parceria com o secretário-geral da ONU, vista como um evento preparatório para a COP-30.