Empresa de transformação digital BRQ mira IPO e quer ir às compras nos EUA
A companhia fechou 2020 com uma receita líquida de R$ 513,7 milhões, crescimento de 22,9% em relação ao ano anterior
“O que a Locaweb faz pelas pequenas e médias empresas, nós fazemos pelas grandes”, resume Benjamin Quadros, CEO da BRQ Digital Solutions, empresa especializada em transformação digital, em entrevista ao CNN Brasil Business.
Trata-se de uma comparação natural, já que a companhia citada faz um estrondoso sucesso na B3 desde que abriu capital, em fevereiro de 2020, e a BRQ também pretende realizar seu IPO neste ano.
Mas, mais do que isso, o movimento faz parte de uma busca pela consolidação do setor de tecnologia nacional, que vem dando as caras na bolsa nos últimos dois anos. E, no caso específico da BRQ, o objetivo é dar “musculatura” ao negócio.
A companhia, criada há 28 anos, fechou 2020 com uma receita líquida de R$ 513,7 milhões, representando um crescimento de 22,9% em relação ao ano anterior, e quer manter este avanço anual de dois dígitos.
“O IPO para nós é uma missão. Já temos compromisso com governança e transparência, as ‘partes ruins’ de se ter capital aberto. Agora, a empresa está pronta para levantar recursos”, diz.
Questionado sobre o momento da bolsa e do setor, Quadros diz que “a janela está aberta agora. O investidor já entendeu que o setor de tecnologia é explosivo e quer tomar esse risco com a empresa”.
Com o dinheiro, o grupo pretende, entre outras incursões, ir às compras nos Estados Unidos. O gestor explica que a operação ainda é pequena por lá, representando 10% do faturamento, e que a marca busca acelerar inorganicamente este processo.
A companhia
Quadros aponta ainda que, com os recursos, a empresa deve buscar atender às necessidades dos clientes existentes. Apesar disso, e diferente do que faz a Locaweb, o melhor caminho nem sempre é o Plug & Play (comprar soluções prontas).
Seu core business é desenvolver, para clientes como Bradesco e Ambev, produtos que ajudem no seu processo de digitalização, sejam eles internos ou em interfaces com o consumidor. E empresas desse porte buscam soluções mais customizadas.
“Nós gostamos de investir aliado às dores dos clientes. Hoje é bem mais fácil encontrar serviços prontos, mas, no caso das grandes, precisamos trazer produtos feitos sob medida para eles”, explica.
“Por exemplo, uma seguradora de carros precisava ir até a casa dos segurados para inspecionar os veículos, o que ficou mais difícil agora. Digitalizamos, então, o processo. Agora o próprio cliente filma o carro e recebe um laudo a partir disso.”
Isso não impede, na verdade até reforça, o apetite da BRQ por startups que agreguem soluções B2B. No Innovation Hub, iniciativa de CVC (corporate venture capital) da empresa, nove empresas já foram aceleradas, como Certdox, Inspectos, IU Pay, Jobecam, Legal Bot, Payface e Workfacilit.
Quadros diz, inclusive, que não teme um quase natural aumento na concorrência nos próximos anos. Ele entende que o setor ainda funciona muito através da reputação das empresas, o que a BRQ conseguiu trabalhar nas últimas três décadas.
“Eu espero que surjam concorrentes, para podermos comprá-las”, diz. Argumenta ainda que sua maior atenção é com as próprias empresas, que podem tentar desenvolver estes processos internamente. Isso faz com que a BRQ queira se embrenhar cada vez mais nos negócios de suas parceiras.
Por isso, a companhia está investindo em uma agência para conectar design, marketing digital e inteligência de dados, a Experience Agency. A ideia é fazer, cada vez mais, parte de todas as etapas de desenvolvimento de soluções e produtos para os clientes, prezando pela agilidade e ciclos mais curtos.
“Os negócios vêm convergindo para algo mais integrado nos últimos anos. As empresas sabem que, para gerar impacto, é preciso entender tendências e comportamentos dos clientes”, diz Rodrigo Frizzi, CDO da BRQ.
Setorialmente, a empresa espera que as soluções de cloud ganhem cada vez mais espaço, já que apenas 20% do mercado utiliza o recurso adequadamente.
Pandemia e Anywhere Office
Dado o período de forte adaptação do mercado por conta dos desafios impostos pela pandemia, Quadros diz que todos os setores precisaram avançar no digital, mas que o varejo “foi impressionante”.
Internamente, destaca que a empresa conseguiu estabelecer o trabalho remoto rapidamente e que o processo também serviu para dinamizar a operação. “Conseguimos reduzir níveis hierárquicos. Antes, havia até sete níveis entre eu e um funcionário, hoje são quatro.”