Jerome Powell cria oportunidade para investidor brasileiro em Jackson Hole?

Todo ano o mundo financeiro volta a sua atenção para o interior dos EUA, em uma cidadezinha pacata que está envolta por montanhas e situada ao lado de um grande parque nacional. Jackson Hole não tem nada de centro financeiro, apesar de atrair turistas com alto poder aquisitivo que vão para a região esquiar durante o inverno. Foi a minha primeira vez visitando a cidade e certamente um momento especial de muita atenção para aquilo que foi dito por lá.
O Simpósio Econômico de Jackson Hole, realizado anualmente no estado de Wyoming, é organizado pelo Federal Reserve de Kansas desde 1978. O evento, que começou como uma conferência regional, ganhou atenção em 1982, quando o renomado presidente do Fed, Paul Volker, foi atraído ao simpósio com a ideia de aproveitar o final de semana para pescar nos belos rios da região. Desde então, muita coisa aconteceu por lá e o evento se tornou um dos principais fóruns onde líderes de bancos centrais, economistas e formuladores de políticas debatem os rumos da economia mundial.
Estava lá bebendo direto na fonte e pude acompanhar de perto aquilo que chacoalhou o mercado semana passada. Em suma, em seu discurso na edição de 2025, Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, indicou a possibilidade de cortes nas taxas de juros em resposta às incertezas econômicas. Sua fala abordou diversos fatores importantes, mas quando ele ressalta as incertezas e riscos para o mercado de trabalho e atividade econômica nos EUA, dando maior ênfase a esse, ao mesmo tempo em que afirma que os riscos inflacionários existem, mas podem ser passageiros, o mercado entendeu o recado. Abre-se a porta para novos cortes de juros nos EUA.
Mergulhando um pouco mais na sua fala, Powell reconheceu que tarifas comerciais podem elevar preços no curto prazo, mas descartou, por ora, a possibilidade de inflação persistente, embora os efeitos permaneçam incertos. Powell destacou “mudanças abrangentes” nas políticas de impostos, comércio e imigração, que alteram o equilíbrio entre pleno emprego e preços estáveis, com ênfase nos crescentes riscos de desaceleração no mercado de trabalho. Sobre o risco de estagflação, Powell observou que, apesar de um mercado de trabalho forte e uma economia resiliente, os riscos negativos estão aumentando. Bem verdade que o tema central do evento tenha sido o mercado de trabalho, mesmo assim, foi a ênfase nos riscos laborais que deu o tom do discurso e alinhou as expectativas refletidas nas curvas de juros.
Conversando com os participantes do evento, tive a sensação de que a decisão de corte de juros na reunião de setembro já está dada. Agora as discussões recaem sobre até onde poderão ir tais cortes. As declarações de Powell reverberaram nos mercados globais. Os rendimentos dos títulos do Tesouro americano, especialmente nos prazos curtos, caíram, refletindo a expectativa de cortes de juros. O mercado acionário reagiu positivamente, com os principais índices registrando altas, impulsionados pela perspectiva de uma política monetária mais acomodatícia. No câmbio, o índice dólar (DXY) recuou, e o dólar caiu frente ao real, atingindo R$ 5,43, acompanhando a queda dos yields. Enfim, a leitura e a precificação do mercado frente à fala de Powell em Jackson Hole foi muito clara: a de que haverá corte de juros nos EUA em breve.
Mas e o que isso tem a ver com o investidor brasileiro que nem sabe onde fica Jackson Hole?
Ora, para o investidor brasileiro, o discurso de Powell tem implicações significativas. Primeiro, abre espaço para maiores especulações em torno de uma possível queda da taxa de câmbio. Afinal, o Brasil não é uma ilha, e a possibilidade de yields elevados no país em consonância com a manutenção de juros amplia o diferencial de juros que tem ajudado a sustentar a taxa de câmbio no atual patamar, mesmo com todos os riscos inerentes à economia brasileira. Se isso for verdade, ou seja, a taxa de câmbio ceder, os setores dependentes de importações podem ser beneficiados, reduzindo custos de insumos e ajudando a manter a inflação sobre controle. Se isso acontecer, quem sabe, abre-se espaço para vermos, no futuro, a taxa de juros no Brasil ceder.
Conhecendo um pouco de nossa história e o balanço de riscos existentes na economia e política brasileira, me parece que, se de fato esse cenário se materializar, de uma taxa de câmbio mais apreciada (com o real se valorizando), cria-se uma oportunidade para o investidor brasileiro investir no exterior dolarizando parte do seu patrimônio a uma taxa mais amistosa.
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