Como foi a primeira noite de ocupação da direita nos plenários do Congresso

Oposição anunciou obstrução das votações na Câmara e no Senado e ocupação das mesas diretoras das Casas

Renata Souza, da CNN, São Paulo
Deputado Sóstenes Cavalcante e parlamentares de oposição fazem ato tampando a boca com esparadrapo durante sessão da Câmara dos Deputados  • José Cruz/Agência Brasil
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Deputados e senadores de oposição passaram a noite no Congresso Nacional, em reação à prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), na segunda-feira (4).

Os parlamentares se revezaram para ocupar as mesas diretoras de ambas as Casas durante a madrugada.

Na Câmara, três grupos compostos por cerca de dez parlamentares cada se revezaram em escala noturna de três horas. Segundo relatos ouvidos pela CNN, a noite foi "tranquila".

Já no Senado, ao todo, o revezamento contou com mais de dez congressistas, segundo relatou o senador Eduardo Girão (Novo-CE). Cada um deles permaneceu no plenário por cerca de duas horas.

"Ficam sempre, pelo menos, dois senadores à noite. Durante o dia tem mais. A gente fica conversando, trabalhando. E também vem muitos deputados. Como é um número maior de deputados, de independentes e da oposição, eles vêm também, de uma certa forma, dar aquela força", disse Girão.

A oposição anunciou na manhã de terça-feira (5) que obstruiria as votações na Câmara e no Senado.

Os parlamentares decidiram ocupar as mesas diretoras das Casas e chegaram a colocar esparadrapos na boca, fazendo referência a um suposto silenciamento.

"Nós estamos começando agora uma ação na Câmara e no Senado, ocupando as duas mesas diretoras, e não saíremos de ambas as mesas até que os presidentes das duas Casas se reúnam para buscarmos resolver um problema de soberania nacional", disse o deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), líder do PL na Câmara, em vídeo publicado nas redes sociais.

Na manhã de terça, os congressistas concederam coletiva de imprensa para falar sobre a obstrução. Entre os discursos, acumularam-se críticas ao ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal que apura um plano de golpe e do inquérito que investiga a atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos EUA.

Aos jornalistas, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) listou as reivindicações do grupo – que ele chamou de "pacote da paz". O grupo demanda a votação de três matérias: o impeachment de Alexandre de Moraes, a anistia "ampla, geral e irrestrita" dos envolvidos nos atos criminosos de 8 de janeiro de 2023 e a PEC (proposta de Emenda à Constituição) que extingue o foro privilegiado.

O que dizem os presidentes das Casas

Em resposta à ação da oposição, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), determinou o cancelamento da sessão do Plenário de terça e agendou para esta quarta-feira (6) uma reunião de líderes para tratar da pauta da semana.

“Acompanho a situação em Brasília desde as primeiras horas do dia de hoje, inclusive o que vem acontecendo agora à tarde no Plenário da Câmara. Determinei o encerramento da sessão do dia de hoje e amanhã chamarei reunião de líderes para tratar da pauta, que sempre será definida com base no diálogo e no respeito institucional. O Parlamento deve ser a ponte para o entendimento”, disse Hugo em sua conta no X.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), também informou que convocaria uma reunião de líderes, mas sem data confirmada.

“O Parlamento tem obrigações com o país na apreciação de matérias essenciais ao povo brasileiro. A ocupação das Mesas das Casas, que inviabilize o seu funcionamento, constitui exercício arbitrário das próprias razões, algo inusitado e alheio aos princípios democráticos. Faço, portanto, um chamado à serenidade e ao espírito de cooperação. Precisamos retomar os trabalhos com respeito, civilidade e diálogo, para que o Congresso siga cumprindo sua missão em favor do Brasil e da nossa população”, afirmou Alcolumbre em nota.

*Com informações das agências Câmara e Senado