Defesa de Lula vê cálculo político em saída de Moro do Ministério da Justiça
Advogado Cristiano Zanin Martins diz que pedido de demissão "não consegue apagar histórico de perseguições"

A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) observou haver um componente político no pedido de demissão de Sergio Moro do comando do Ministério da Justiça. O ex-juiz, que condenou Lula na operação Lava Jato, anunciou sua saída após o presidente Jair Bolsonaro retirar o delegado Maurício Valeixo do comando da Polícia Federal.
"No comunicado feito à ONU em 2016 afirmamos que Moro estava construindo uma carreira política como juiz. Isso se confirmou com a ida dele ao Ministério da Justiça. O cálculo político me parece que continua presente nas suas ações", afirmou o advogado Cristiano Zanin Martins, que representa o ex-presidente na Justiça — desde que deixou a magistratura, Moro é cotado para disputar as eleições de 2022.
Zanin também criticou a atuação do ex-juiz à frente da Lava Jato, a quem acusa de agir com parcialidade. "Moro sai do governo Bolsonaro mas não consegue apagar o histórico de perseguições que o levou até lá, como está descrito no processo que levamos ao Comitê de Direitos Humanos da ONU e na suspeição que tramita no STF."
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No processo que corre no Supremo, a defesa tenta obter a anulação da condenação de Lula no processo relacionado ao tríplex do Guarujá, que rendeu 1 ano e 5 meses de prisão ao ex-presidente na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. Este julgamento foi iniciado em dezembro de 2018, interrompido por um pedido de vista e ainda não foi concluído.
Indicação ao STF
Em pronunciamento nesta sexta, Bolsonaro afirmou que Moro condicionou uma troca no comando da Polícia Federal a uma indicação para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). No segundo semestre, o decano da corte, ministro Celso de Mello, será aposentado compulsoriamente por idade. Moro nega.
"Mais de uma vez, o senhor Sergio Moro disse para mim: Você pode trocar o Valeixo sim, mas em novembro, depois que você me indicar para o Supremo Tribunal Federal", afirmou o presidente, em referência a Mauricio Valeixo, que foi exonerado do cargo de diretor-geral da Polícia Federal pela manhã. “É desmoralizante para um presidente ouvir isso. Mais, ainda, externalizar”.