Em estudo, vacina de células T contra Covid mostra efeito mais duradouro que imunizantes atuais

Vacina projetada em plataforma de inteligência artificial apresenta resultados promissores em testes com animais

Lucas Rocha, da CNN, em São Paulo
Desenvolvimento de uma vacina baseada em células T é um processo longo, afirma pesquisador  • Boy_Anupong/Getty Images
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Parte das vacinas contra a Covid-19 em uso no mundo são projetadas para induzir a formação de anticorpos a partir de um pedaço específico do coronavírus, a proteína Spike, que pode apresentar mutações. Com o objetivo de driblar uma possível perda de eficácia, cientistas dos Estados Unidos se concentram na célula T para desenvolver uma vacina gerada por inteligência artificial.

Em um ensaio, os especialistas da Universidade Penn State, em parceria com a Evaxion Biotech, demonstraram a eficácia do imunizante gerado em um modelo animal.

Os pesquisadores afirmam que a vacina é capaz de oferecer imunidade duradoura contra futuras variantes emergentes e pode ser usada também como modelo para o desenvolvimento de outros imunizantes, como o da gripe.

No estudo, camundongos receberam altas doses do coronavírus. A análise revelou que 87,5% dos camundongos imunizados com a vacina baseada em células T sobreviveram, enquanto apenas 10% dos camundongos do grupo de controle permaneceram vivos. Além disso, todos os camundongos vacinados que sobreviveram eliminaram a infecção em 14 dias após o teste. Os resultados foram publicados no periódico científico Frontiers in Immunology.

“Até onde sabemos, este estudo é o primeiro a mostrar proteção in vivo [em um organismo vivo] contra Covid-19 grave por uma vacina de células T projetada por IA”, disse Girish Kirimanjeswara, professor associado de ciências veterinárias e biomédicas, da Universidade Penn State, em comunicado.

“Nossa vacina foi extremamente eficaz na prevenção de Covid-19 grave em camundongos e pode ser facilmente ampliada para começar a testá-la também em humanos. Esta pesquisa também abre caminho para o potencial design rápido de novas vacinas de células T contra doenças virais emergentes e sazonais, como a gripe”, completa.

Novas vacinas

O pesquisador explica por que considera importante o desenvolvimento de novos imunizantes contra a Covid-19, mesmo que as vacinas atuais sejam altamente eficazes na prevenção de casos graves e mortes pela infecção.

Segundo Kirimanjeswara, a proteína Spike do vírus SARS-CoV-2 está sujeita ao impacto de mutações, que impulsionam o surgimento de novas variantes do coronavírus.

“Isso significa que os fabricantes de vacinas terão que continuar criando novas vacinas que visam novas variantes, e as pessoas precisam continuar recebendo essas novas vacinas”, disse ele.

Em vez de ter como alvo a proteína Spike, a equipe da Evaxion Biotech projetou uma vacina que incluía 17 estruturas que interagem com anticorpos de várias proteínas do SARS-CoV-2 que são reconhecidas pelo sistema imunológico. Essas estruturas, chamadas epítopos, provocam uma resposta imune ampla, o que, segundo os pesquisadores, poderá garantir uma cobertura sustentada de variantes futuras.

“O vírus teria que passar por muitas mutações para poder escapar dessa imunidade mediada por células T, então essa é uma vantagem”, disse Kirimanjeswara. “A segunda vantagem é que a imunidade mediada por células T geralmente é duradoura, então você não precisa de doses repetidas de reforço.”

O pesquisador acrescenta que o desenvolvimento de uma vacina baseada em células T é um processo mais difícil e que leva um tempo maior, em comparação com as vacinas em uso no mundo.

“Dada a urgência com que precisávamos de uma vacina para enfrentar a pandemia de Covid-19, faz sentido que os fabricantes de vacinas tenham criado uma vacina baseada em anticorpos. Agora que a urgência passou, uma vacina baseada em células T de segunda geração pode ser mais eficaz e durar mais tempo”, detalha.