Arqueólogos encontram tatuagens elaboradas em múmia de 2 mil anos

Desenhos intrigaram cientistas pelas figuras complexas e despertaram curiosidade sobre ferramentas utilizadas

Jack Guy, da CNN
Um corte suturado na pele que atravessa as tatuagens sugere que a arte não tinha um papel específico em rituais funerários
Um corte suturado na pele que atravessa as tatuagens sugere que a arte não tinha um papel específico em rituais funerários  • G. Caspari e M. Vavulin
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Arqueólogos usaram técnicas de ponta para revelar novas informações sobre as tatuagens intrincadas de uma mulher que viveu na Sibéria durante a Idade do Ferro.

Embora os restos pré-históricos datem de mais de 2.000 anos, a pele — e, portanto, os desenhos — de múmias da cultura Pazyryk, da região, foram preservadas pelo permafrost nas montanhas Altai, segundo comunicado da revista Antiquity, que publicou o estudo nesta quinta-feira (31).

As tatuagens “há muito intrigam os arqueólogos por seus elaborados desenhos figurativos”, disse Gino Caspari, autor do estudo e arqueólogo do Instituto Max Planck de Geoantropologia e da Universidade de Berna.

No entanto, pesquisas anteriores sobre as tatuagens baseavam-se em desenhos esquemáticos antigos.

“Essas interpretações não deixavam claro quais técnicas e ferramentas eram usadas e não se concentravam muito nos indivíduos, mas sim no contexto social mais amplo”, afirmou Caspari.

Uma seleção de tatuagens encontradas na múmia • D. Riday via CNN Newsource
Uma seleção de tatuagens encontradas na múmia • D. Riday via CNN Newsource

Agora, porém, os pesquisadores conseguiram produzir uma varredura 3D de uma das múmias tatuadas usando fotografia infravermelha próxima de alta resolução, recentemente disponibilizada, o que lançou luz sobre o alto nível de habilidade dos tatuadores Pazyryk.

Um modelo 3D da múmia • M. Vavulin via CNN Newsource
Um modelo 3D da múmia • M. Vavulin via CNN Newsource

Os cientistas trabalharam com profissionais modernos para identificar as ferramentas e técnicas usadas por seus antigos equivalentes, revelando que essa múmia em particular tinha tatuagens mais detalhadas no antebraço direito do que no esquerdo.

Embora os dois desenhos compartilhem muitas características, o braço direito mostra “uma atenção mais refinada aos detalhes e uma maior variedade de técnicas visuais” em comparação com o esquerdo, segundo o estudo.

A tatuagem no braço direito provavelmente levou pelo menos duas sessões para ser concluída, e utiliza os contornos do pulso para permitir que o desenho flua sobre o braço, acrescenta o texto.

Uma reconstrução de uma tatuagem de uma criatura parecida com um cavalo • D. Riday via CNN Newsource
Uma reconstrução de uma tatuagem de uma criatura parecida com um cavalo • D. Riday via CNN Newsource

Esse “posicionamento inteligente” não apenas “demonstra a expertise do artista”, como também enfatiza um felino como ponto focal do desenho, segundo o estudo.

Essa habilidade também é demonstrada pela linha clara e consistente dos traços, disseram os pesquisadores.

“Alcançar resultados tão nítidos e uniformes, especialmente com métodos manuais (sem máquinas), seria um desafio até mesmo para tatuadores contemporâneos usando equipamentos modernos”, escreveram.

Isso pode significar que o trabalho foi realizado por dois artistas diferentes ou pelo mesmo em diferentes estágios de treinamento, indicando que esse era um ofício especializado entre os Pazyryk, exigindo treinamento formal e habilidade técnica, segundo o comunicado.

Tatuagens de pássaros, cruzes e ornamentos que lembram peixes • D. Riday via CNN Newsource
Tatuagens de pássaros, cruzes e ornamentos que lembram peixes • D. Riday via CNN Newsource

“O estudo oferece uma nova forma de reconhecer a atuação individual nas práticas pré-históricas de modificação corporal”, disse Caspari.

“A tatuagem surge não apenas como decoração simbólica, mas como um ofício especializado — que exigia habilidade técnica, sensibilidade estética e treinamento formal ou aprendizado.”

Isso não é muito diferente do que acontece com os profissionais modernos, acrescentou ele.

“Isso me fez sentir que estávamos muito mais próximos de ver as pessoas por trás da arte, como trabalhavam, aprendiam e cometiam erros”, disse Caspari. “As imagens ganharam vida.”

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