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    Veículos de imprensa invadem o TikTok para atrair a Geração Z

    Nomes como Washington Post, USA Today e NowThis estão postando explicações e checagens atreladas a notícias

    Kerry Flynn , CNN Business

    TikTok, o aplicativo de vídeo de formato curto, popular entre a geração Z e mais conhecido por seus virais desafios de dança, é o app de entretenimento número 1 na App Store da Apple. Mas veículos de imprensa se agarraram a ele por um motivo diferente: estão postando explicações e checagens atreladas a notícias. Às vezes, eles também estão dançando — tudo para atrair a próxima geração de consumidores de notícias. 

    “Queríamos fazer parte das tendências da dança e dos momentos de bem-estar, formar um público e começar a inserir as notícias com mais frequência”, disse Alex Ptachick, editor de audiência de plataformas emergentes do jornal USA Today ao CNN Business. “Isso não significa que vamos parar de nos divertir e ser engraçados”. 

    O TikTok, que mudou seu nome em agosto de 2018 (era Musical.ly anteriormente), despertou o interesse de várias empresas de mídia que buscam atrair o público jovem e engajado do aplicativo. NBC News, ESPN, iHeartRadio e The Dodo começaram a experimentar o TikTok no início de 2019. O Washington Post lançou sua conta em maio e o NowThis entrou em dezembro. 

    O TikTok ajudou “Old Town Road”, de Lil Nas X, a bater os recordes da Billboard e inaugurou uma nova classe de celebridades da Internet. Já foi baixado mais de 1,5 bilhão de vezes, de acordo com o site de análise de aplicativos Sensor Tower. O aplicativo possui um público jovem, tendo 69% de seus usuários entre 16 e 24 anos, de acordo com a empresa. 

    “Queremos encontrar nosso público jovem onde eles estiverem, e está claro que há um público jovem enorme nessa plataforma. Queremos contar histórias atraentes para eles”, disse Nico Pitney, diretor de notícias e política do NowThis. 

    O USA Today lançou sua conta no TikTok em novembro com vídeos leves e alegres, combinados com música, para fornecer uma visão dos bastidores de sua redação e outros momentos fofos. Em janeiro, a equipe decidiu testar outra coisa.

    Naquele momento, abrir o TikTok pode ter levado alguns a crer que os EUA haviam iniciado a Terceira Guerra Mundial depois que o presidente Trump autorizou um ataque por drone que matou o principal comandante do Irã. Um vídeo do TikTok que obteve 2,2 milhões de visualizações mostra uma jovem olhando para a câmera com um texto sobreposto que dizia: “Então está todo mundo falando em engravidar para evitar a convocação para a Terceira Guerra Mundial, mas ninguém percebeu que isso significa que criaremos outra geração de baby boomers”. Outro que tem 1,4 milhão de visualizações disse: “Vantagens de ser convocado para a 3ª Guerra Mundial: ficar sem escola, viajar, comida deliciosa e gratuita, um novo período”. 

    É claro que não há convocação. Os usuários do TikTok estavam simplesmente usando o aplicativo para criar e compartilhar memes sobre o conflito entre os EUA e o Irã. Mas Ptachick e sua equipe de três pessoas enxergaram uma oportunidade. 

    “Estávamos mandando mensagem pra lá e pra cá: ‘Meu Deus, estou vendo que as pessoas estão dizendo que estamos em guerra. As pessoas estão falando sobre serem convocadas. O que podemos fazer para divulgar as notícias verdadeiras?'”, disse Ptachick. 

    Em 6 de janeiro, o USA Today postou um vídeo no TikTok com uma legenda que dizia: “A tensão entre os EUA e o Irã está aumentando. Veja aqui o que você precisa saber”. Em vez de música pop e dança, o vídeo apresentava imagens estáticas e uma narração ao fundo. Com pouco mais de 50.000 visualizações, o vídeo é menos popular do que muitas outras postagens do USA Today e acumulou menos visualizações que as postagens viralizadas sobre a convocação. Mas comentários no vídeo como “Mais conteúdo como esse, por favor!”, “Obrigado pelas informações” e “obrigado” motivaram o veículo a compartilhar mais notícias no TikTok. Desde então, Ptachick e sua equipe postaram dois vídeos sobre os incêndios na Austrália — um gerando 63.000 visualizações e o outro, 31.200. 

    O TikTok se classifica como um aplicativo de entretenimento, sendo que os usuários o comparam a “terapia” por conta do alívio cômico que ele proporciona. Mas os adolescentes também o utilizam para falar sobre assuntos sérios, como tiroteios em escolas e mudanças climáticas. Os veículos de mídia têm se engajado com o aplicativo de maneira semelhante, dançando em alguns vídeos e explicando questões de interesse em outros. 

    O NowThis, por exemplo, criou vídeos sobre o impeachment do presidente Trump e os incêndios florestais da Austrália. O vídeo sobre impeachment exibe uma mão colocando recortes de papel de atores importantes, como Hunter Biden, e sacos de dinheiro em uma mesa, com um narrador explicando a linha do tempo dos eventos. O vídeo do incêndio florestal apresenta um infográfico com pontos preenchendo um mapa da Austrália para mostrar a propagação do fogo. Ao fundo, a canção “All Time Low”, de Jon Bellion. 

    “Nosso público se preocupa com questões, com políticas públicas”, disse Pitney. “Estamos explicando questões complexas aos consumidores de notícias que estão de alguma forma encontrando sua consciência política”. 

    O TikTok parece estar enfrentando menos problemas de informações incorretas e informações enganosas que o Facebook e o Twitter. Mas não está livre disso. O site Slate detalhou em um relatório os “três tipos de golpes” que têm surgido no TikTok. Apoiada por Pequim, a empresa foi acusada de usar táticas de censura no estilo chinês para ocultar informações sobre os protestos de Hong Kong, o massacre da Praça da Paz Celestial e a independência tibetana. A empresa disse ao jornal The Guardian que “essas diretrizes antigas estão desatualizadas e não mais em uso”. A Bloomberg informou no início deste mês que o TikTok está lutando para combater contas que fingem ser de líderes mundiais. 

    Na semana passada, o TikTok revisou as diretrizes da comunidade para tratar de informações erradas e conteúdo enganoso no aplicativo. “Acreditamos que se sentir seguro seja essencial para ajudar as pessoas a se expressarem de maneira aberta e criativa. Também pretendemos cultivar um ambiente para interações autênticas, afastando conteúdo e contas enganosos da nossa plataforma”, dizem as regras. 

    “Nada parece estar fora dos limites no TikTok” 

    O TikTok é uma presença constante no ensino médio. Jonathan Rogers, professor de jornalismo na Iowa City High School, soube do aplicativo enquanto lecionava em um encontro de jornalismo no verão passado. Ele descreve o aplicativo como uma “atmosfera de refeitório, onde os adolescentes estão fazendo piadas sobre qualquer coisa em vídeos e memes engraçados”. Em agosto, seus alunos criaram uma conta para o jornal da escola. 

    “Nada parece estar fora dos limites no TikTok,” disse Rogers. 

    Rogers contou que seus alunos usam o humor nos vídeos do TikTok para processar o que está acontecendo no mundo à sua volta. 

    “Eles não acham que sejam desinformados, apenas não informados”, disse ele. É aí que alguns veículos de imprensa enxergam uma oportunidade. 

    O MediaWise, um projeto da Poynter voltado para alfabetização midiática para adolescentes, criou uma conta no TikTok para promoção e “combate à desinformação”, disse Katy Byron, editora e gerente de programa do MediaWise. 

    De forma semelhante ao USA Today, o MediaWise criou um vídeo em resposta aos memes da Terceira Guerra Mundial. O foco estava na verificação de informações sobre convocação, em vez de explicar o conflito EUA-Irã. Já recebeu 1.130 visualizações até agora. 

    “No meu primeiro ano na faculdade aconteceram os ataques de 11 de setembro e todo mundo estava falando: ‘Houve uma convocação?'”, disse Byron. “Isso é apenas a natureza humana, mas está ganhando um novo caráter viral por conta dessas plataformas sociais, se espalhando como fogo”. 

    O TikTok considerou criar um feed com curadoria de conteúdo a partir de fontes respeitáveis, incluindo agências de notícias. O jornal Financial Times noticiou que seria semelhante ao Snapchat Discover, que apresenta vídeos de criadores e editores profissionais minuciosamente examinados e poderia fornecer um espaço seguro para marcas, especialmente aquelas que temem anunciar ao lado de conteúdo gerado por usuários. 

    “Os editores estão recorrendo ao TikTok para atingir públicos mais amplos e criar uma marca em torno de seu conteúdo, e esperamos continuar a trabalhar com eles à medida que essa comunidade cresce”, disse um porta-voz do TikTok à CNN Business. “Estamos sempre pensando em formas de permitir que nossos parceiros de marca atinjam os consumidores de maneiras novas e inovadoras, além de possibilitar novas fontes de receita para nossos criadores e parceiros de publicação”. 

    Ptachick, do USA Today, disse à CNN Business que sua equipe está em “constante comunicação” com o TikTok sobre as melhores práticas e outros conselhos para fazer sua conta crescer. Pitney, do NowThis, disse que sua equipe não falou com o TikTok, mas que recebem um e-mail semanal sobre as hashtags mais populares. 

    Dave Jorgenson, do Washington Post, que atua como jornalista de vídeo para o jornal e como a cara da conta da empresa no TikTok, usa humor, faz acrobacias e esboços para dar aos espectadores uma visão da vida dentro da redação. Às vezes, os vídeos estão vinculados às notícias. Por exemplo, um vídeo recente vinculado às indicações ao Oscar é uma brincadeira baseada no filme “Coringa”, que foi indicado em 11 categorias. 

    Mas Jorgenson expressou relutância em incorporar muitas notícias ao TikTok do Washington Post, pois vê a conta “um pouco como um escape das notícias”. 

    “Não que você deva ignorar as notícias, mas eu não quero aparecer no TikTok — o jantar divertido — e todos estão felizes e destruir tudo”, disse ele à CNN Business. 

    Jorgenson, no entanto, responde a comentários com fatos extraídos das notícias. No TikTok sobre o “Coringa”, ele escreveu que nenhuma mulher foi indicada para Melhor Diretora e que “Coringa” recebeu o maior número de indicações neste ano. 

    “Se o público está perguntando sobre alguma coisa, farei o possível para de fato responder sobre o que estão perguntando”, disse Jorgenson. “Se eu puder encontrar um TikTok que se encaixe no que as pessoas estão falando no TikTok e que também esteja relacionado às notícias, vou fazer isso, mas nunca vou forçar isso em algo que já é tendência no TikTok.” 

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