Recorde de calor em 2024 aumenta pressão sobre o Brasil na COP30
Organização Meteorológica Mundial anunciou oficialmente que 2024 foi o ano mais quente já registrado na história e o primeiro a ultrapassar o limite de 1.5°C definido pelo Acordo de Paris
O anúncio oficial de que 2024 foi o ano mais quente já registrado na história e o primeiro a ultrapassar o limite de 1,5°C definido no Acordo de Paris aumenta muito a pressão sobre o Brasil na presidência da COP30.
Os números foram divulgados pelo serviço meteorológico da União Europeia, e confirmados pelos órgãos similares do Reino Unido, China e Estados Unidos.
A temperatura média do planeta em 2024 foi 1,6°C mais alta do que em 1850–1900, o período pré-industrial, ou seja, a fase anterior ao uso em grande escala de combustíveis fósseis.
O limite de 1,5°C de aquecimento máximo em relação àquele período foi adotado pelo Acordo de Paris para evitar que as mudanças climáticas levem a tragédias irreversíveis para a vida na Terra.
Os dados científicos divulgados agora comprovam definitivamente que o mundo enfrenta uma emergência climática, o que exige que medidas mais ambiciosas sejam adotadas por governos, empresas e pela sociedade como um todo.
E a responsabilidade sobre isso vai recair, sem dúvida, sobre a próxima conferência mundial do clima, a ser realizada em Belém em novembro deste ano.
Existe, no entanto, um risco enorme de que tudo acabe em frustração.
Afinal, para conter o aquecimento global desenfreado e ser considerada um sucesso, a COP30 terá que adotar medidas muito mais duras do que as anteriores com relação a limitar o uso de petróleo, carvão e gás como fontes de energia.
Além disso, é crucial que os quase 200 países que vão participar da conferência cheguem a um acordo significativo com relação ao financiamento para a mitigação dos impactos do aquecimento global e para a transição para fontes de energia mais limpas.
Apesar dos alertas e de todas as evidências, no entanto, é muito difícil que esses objetivos sejam plenamente alcançados em Belém.
Em primeiro lugar, porque muitos governos e entidades continuam negando que as mudanças climáticas sejam provocadas pela ação humana.
Além disso, existe um forte lobby de setores ligados aos combustíveis fósseis para bloquear medidas mais concretas para limitar o seu uso.
O próprio governo brasileiro continua dividido com relação à questão – o que pode impactar negativamente nos resultados da COP, já que o país terá um papel fundamental nas negociações por presidir o evento.
Por fim, a volta do republicano Donald Trump à Casa Branca também vai diminuir muito as chances de sucesso no combate às mudanças climáticas.
O presidente eleito dos Estados Unidos já disse várias vezes que vai reverter muitas políticas ambientais adotadas pelo seu antecessor, Joe Biden.
Trump pretende, por exemplo, estimular ainda mais a exploração e uso do petróleo e gás. Ele também deverá se negar a continuar financiando parte das ações contra as mudanças climáticas.
Sem a ajuda do país mais rico e um dos maiores poluidores do mundo, a luta contra as mudanças climáticas e o sucesso da COP30 ficam ainda mais difíceis.
Nesse cenário, e com os alertas científicos, o Brasil vai ter que trabalhar ainda mais para tentar garantir avanços na primeira conferência do clima a ser realizada na Amazônia – uma das áreas sob maior risco com as mudanças climáticas.