Basília Rodrigues
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Basília Rodrigues

Apura e explica. Adora Jornalismo e Direito. Vencedora do Troféu Mulher Imprensa e prêmios Especialistas, Na Telinha e profissionais negros mais admirados

Ser mulher, ainda mais negra, é ser feita de estratégia

Por que, em pleno 2024, ainda faltam mulheres na mesa de controle?

Basília Rodrigues é analista de política da CNN Brasil
Basília Rodrigues é analista de política da CNN Brasil  • Arquivo pessoal
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O jornalismo é um lugar privilegiado de onde dá para ver o poder bem de perto, mas também muitas de suas distorções. Parte disso acontece com nós – mulheres – que fazemos cobertura política diariamente em plenários, salões e gabinetes, como aqui em Brasília.

Nada convencional uma mulher negra, jornalista há 16 anos, da periferia e que cobre Política e Judiciário. Ok, pode-se até dizer "nada convencional" mas olha eu aqui, bem real. Antes de mim, outras mulheres passaram e poucas sobrevivem nesta profissão até hoje. Atrás, vem vindo mais e isso me enche de entusiasmo para continuar porque ainda que uma régua desigual esteja sobre a minha cabeça, eu sei que o que está dentro dela não tem igual.

Mulheres, quanto mais as mulheres negras, vivem de estratégia. Não é só respirar e viver um lindo dia, isso seria bárbaro; mas se cercar de cuidados para seguir em frente, não importa o que aconteça.

Ao abrir a porta de um desses lugares para onde o Jornalismo nos leva, uma certeza é de que haverá homens e, quase sempre, na cadeira mais importante; a mesma garantia, porém, não existe para quem procura por mulheres.

Por que, em pleno 2024, ainda faltam mulheres na mesa de controle; são poucas ou nem lá estão?

Em Brasília, até hoje, passou uma presidente da República pelo Palácio do Planalto; e houve três ministras da Suprema corte, sendo que agora há apenas uma por causa do limite de idade de 75 anos. Na Câmara, entre 513 deputados, apenas 18% respondem se forem chamadas de deputadAS. Se formos ao Senado, dos 81 políticos, 15 são senadorAS.

Mulheres são maioria na sociedade mas nem por isso tem a voz respeitada. Mulheres são minoria em direitos, promoção de carreira e reconhecimento social. Formam a chamada maioria minorizada, gigante no tamanho mas inferiorizada nos direitos.

Quem foi que decidiu que a mulher nasceu para isso e não pode fazer outra coisa? A resposta é: homens e também mulheres que foram decidindo, moldando e sendo moldados pelo que a sociedade chama de convenção.

P.S.: Aproveitando a data, pensei em Beyoncé, Michelle Obama, Rihanna, Viola Davis, Thaís Araújo, mulheres negras poderosas, que me fazem lembrar de uma frase que diz: a excelência negra é a melhor forma de militância. É ser excelente na família, em casa, no trabalho, em tudo o que se faz.