Análise: Ramagem entre oposição a Paes e porta-voz do bolsonarismo
Candidato a prefeito do Rio de Janeiro parece outra pessoa e exibiu isso na entrevista à CNN
Quem acompanhou o então chefe da Abin Alexandre Ramagem durante o governo Bolsonaro dificilmente imaginaria que ele entraria na política.
O delegado da Polícia Federal era discreto, falava pouco e nunca esteve perto das grandes operações políticas do governo. Parecia que, terminado o governo, voltaria para a PF.
Não foi o que aconteceu.
O candidato a prefeito do Rio de Janeiro parece outra pessoa e exibiu isso na entrevista à CNN.
Está treinado pela equipe do marqueteiro Paulo Vasconcelos, que tem no currículo a quase vitoriosa campanha presidencial de Aécio Neves em 2014.
Tem resposta para (quase) tudo.
Seu alvo, o que era previsível, é o líder disparado nas pesquisas e candidato à reeleição no Rio, Eduardo Paes.
Contra Paes, Ramagem aponta as críticas ao fato de ser o candidato “do sistema”, com apoio de Lula, da esquerda e da máquina municipal.
Apresenta-se como um candidato de oposição, mas consegue conduzir essa posição “até a página 2”.
O motivo é que precisa dividir suas propostas e seus ataques com o fato de ser, certamente, um dos políticos, hoje, mais próximos da família Bolsonaro.
A amizade que começou na campanha de 2018 — ele era o segurança indicado pela Polícia Federal para proteger o então candidato Jair Bolsonaro — migrou para o ambiente familiar e para o governo.
O que o coloca na prática como um porta-voz do bolsonarismo.
E, por isso mesmo, não tem como fugir de perguntas incômodas do seu grupo político, em especial às relacionadas a família Bolsonaro e ao Rio de Janeiro.
Como a relação deles com as milícias do estado.
Ramagem diz que se trata de narrativas, mas, confrontado com o fato do senador Flavio Bolsonaro ter condecorado em 2005 o capitão Adriano de Nóbrega, que foi chefe da milícia Escritório do Crime, diz que, à época, Nóbrega não tinha migrado para o crime.
Também chama de narrativas as investigações em torno da Abin paralela que teria ele, Ramagem, como eixo central.
O candidato do PL busca inverter o processo: diz ter liderado o processo de faxina na instituição.
É cedo para saber se a estratégia vai dar certo. Embora ainda não chegue a dois dígitos na maioria das pesquisas de opinião, se todo eleitor que votou em Bolsonaro em 2022 votar em Ramagem em 2024, o delegado da PF estará no segundo turno.
Precisará, porém, até lá, se equilibrar entre a crítica ao atual prefeito e a defesa da família Bolsonaro.
Quem é Alexandre Ramagem, candidato a prefeito do Rio de Janeiro