Clarissa Oliveira
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Clarissa Oliveira

Viveu seis anos em Brasília. Foi repórter, editora, colunista e diretora em grandes redações como Folha, Estadão, iG, Band e Veja

Análise: PIB é mais um aviso de que o governo perdeu oportunidade

Desconfiança com ajuste fiscal fala mais alto que sinais positivos para economia brasileira

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Desconfiança com ajuste fiscal fala mais alto que sinais positivos para economia brasileira  • Foto: Bruno Domingos/Reuters
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Se o tão esperado pacote de corte de gastos não tivesse sido anunciado com um olho na eleição de 2026, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva talvez tivesse bons motivos para comemorar nesta terça-feira (3).

Os dados do PIB divulgados pelo IBGE vieram com alguns sinais importantes para a Economia. Mas que foram obviamente ofuscados pelo mau-humor e a forte desconfiança que cercam o ajuste fiscal.

Basicamente, o PIB deu ainda mais força à ideia de que Lula e sua equipe perderam uma oportunidade. A alta de 0,9% registrada no último trimestre foi distribuída por diversos setores da Economia, com destaque para os serviços e a indústria.

 

É um termômetro importante para a capacidade do Brasil de dar consistência ao seu crescimento.

 

É um termômetro importante para a capacidade do Brasil de dar consistência a seu crescimento.

Com base no resultado, a Fazenda deve revisar para cima sua projeção do PIB para o ano, já que a aposta é que o avanço vá persistir nos próximos meses.

O problema é que, para crescer rápido, é preciso fazer a lição de casa. Sem isso, um PIB forte é um problema. E se traduz em mais pressão inflacionária.

Para começo de conversa, retira-se qualquer margem que o Banco Central pudesse ter para segurar a taxa básica de juros. Até porque ela passa a ser a ferramenta para evitar um problema maior.

Não à toa reforça-se a perspectiva de novas altas da Selic. E pouco vai importar a gritaria da ala política do governo e do PT em relação a um BC que passará a ser comandado por Gabriel Galípolo, indicado de Lula para a vaga.

Para economistas ouvidos pela CNN, o governo deveria ter aceitado o remédio amargo que viria de um corte mais profundo. E, principalmente, não deveria ter casado o pacote com a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil.

Hoje, até alguns amigos próximos de Lula admitem que essa ideia foi um grande tiro no pé. Que se criou um ruído desnecessário, sem que a medida tenha efeito imediato para os brasileiros que vão encarar as mudanças no salário-mínimo e no Benefício de Prestação Continuada (BPC).

A aposta no governo neste momento é que a aprovação do pacote no Congresso vai ajudar a dissipar as insatisfações.

Mas, em meio a um clima de tamanha desconfiança, com um dólar que resiste em permanecer acima dos R$ 6, a tarefa certamente será bem mais difícil do que precisava ser.

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