Análise: Melo inicia 2º mandato em Porto Alegre sob temor de novas enchentes
Antipetismo gaúcho reelegeu o atual prefeito, mesmo após críticas sobre a condução da crise climática


O prefeito de Porto Alegre (RS), Sebastião Melo (MDB), inicia um segundo mandato em 2025 sob receio de que novas enchentes atinjam a capital gaúcha ainda no primeiro semestre – e isso acabe aumentando, já na largada, os índices de rejeição.
Ele corre contra o tempo para terminar obras emergenciais visando a ampliação do sistema de prevenção contra cheias, antes que as chuvas voltem à capital gaúcha, o que costuma ocorrer entre os meses de abril e maio.
Em 20 de dezembro, um dia antes de Brasília se esvaziar para o recesso, Melo esteve na capital federal. Ele assinou financiamentos internacionais envolvendo projetos para drenagem urbana e melhorias em casas de bombas. Não há prazo para a conclusão dessas obras.
O modo como Melo conduziu a crise climática, no ano passado, gerou uma onda de críticas, mas não o suficiente para que os porto-alegrenses decidissem tirá-lo do cargo. Pelo contrário, o prefeito quase liquidou a fatura no primeiro turno.
O antipetismo é tão forte na capital do Rio Grande do Sul que não deu margem para que a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) pudesse ter competitividade contra Melo no segundo turno, ainda que ela tenha obtido apoio da terceira colocada, Juliana Brizola (PDT).
Principal cabo eleitoral de Melo foi o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), líder da direita brasileira, que conseguiu driblar a resistência do MDB gaúcho e emplacar, como vice-prefeita, Betina Worm, uma tenente-coronel sem qualquer experiência política.
Fontes próximas ao prefeito admitem que os desafios vão além da questão climática. Há um consenso de que a área da saúde precisa de uma política mais robusta para zerar as filas, e que a educação é um ponto de fragilidade que o governo precisa superar.
Assim como fez durante a campanha eleitoral, Melo vai seguir tentando desvincular a imagem dele do esquema de corrupção, descoberto pela Polícia Civil, na Secretaria Municipal de Educação (Smed). Ele não é investigado nominalmente, mas teme uma “crise de imagem”.
No âmbito político, Melo terá de equilibrar pratos para deixar satisfeitos os onze partidos aliados à candidatura dele, seja no primeiro escalão do secretariado ou nas diretorias de outras instituições municipais. Para isso, ainda está decidindo quem sai ou fica.
Embora a composição da Câmara de Vereadores seja majoritariamente alinhada ao prefeito (dos 35, 16 são de partidos da coligação dele), a oposição ampliou o número dos integrantes na bancada, de dez para 12 – fortalecida, promete ser mais ruidosa do que na legislatura anterior.
Pelo menos até o fim de 2026, o prefeito conta com apoio do governador Eduardo Leite (PSDB), que tem um emedebista como vice (Gabriel Souza). O cenário é incerto a partir de 2027, quando um novo nome assume o posto.
Desde que foi reeleito, o prefeito tem adotado um tom conciliador. “A democracia tem muitos pilares, mas um deles é conviver com as diferenças”, disse ele ao ser diplomado. A posse vai ocorrer na Usina do Gasômetro, um cartão-postal de Porto Alegre.