Luísa Martins
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Luísa Martins

Em Brasília, atua há oito anos na cobertura do Poder Judiciário. Natural de Pelotas (RS), venceu o Prêmio Esso em 2015 e o Prêmio Comunique-se em 2021. Passou pelos jornais Zero Hora, Estadão e Valor Econômico

Escolha de novo corregedor da Abin desagrada servidores e gera desgaste interno

Delegado da PF, José Fernando Moraes Chuy vai herdar apurações administrativas sobre esquema de espionagem ilegal

Fachada Abin Agência Brasil
Fachada Abin Agência Brasil  • Antonio Cruz/Agência Brasil
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A escolha do novo corregedor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) desagradou servidores e causou desgaste interno no órgão, já sob pressão em meio às investigações da chamada "Abin paralela".

A diretoria da Abin optou por um nome que não integra o seu quadro de pessoal: o do delegado da Polícia Federal (PF) José Fernando Moraes Chuy.

A resistência a Chuy remonta a 2018, quando ele lançou o livro "Operação Hashtag - A primeira condenação de terroristas islâmicos na América Latina". A percepção dos servidores é que o delegado minimizou a atuação da Abin no episódio.

O delegado foi chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante a presidência do ministro Alexandre de Moraes - que, aliás, assina o prefácio do livro sobre a Operação Hashtag.

Agora, Chuy vai "herdar" as apurações administrativas em torno dos funcionários envolvidos no esquema de espionagem ilegal que, segundo inquérito da própria PF, vigorou durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A União dos Profissionais de Inteligência de Estado da Abin (Intelis) disse considerar "preocupante" e "injustificada" a indicação de um corregedor-geral que não é servidor de carreira do órgão, além de um "desprestígio" à categoria.

"Temos certeza que a instituição possui excelentes quadros para ocupar a função e por isso consideramos irrazoável. Nos preocupa as consequências de uma indicação como essa em uma instituição republicana", diz nota da Intelis.

Chuy deve assumir o cargo em 31 de agosto, em substituição à oficial de inteligência Lidiane Souza dos Santos, indicada durante a gestão do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), aliado de Bolsonaro e um dos alvos da investigação sobre a espionagem ilegal.

A CNN entrou em contato com a Polícia Federal para comentar as críticas da Intelis ao delegado, mas ainda não teve retorno.