Maurício Noriega
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Maurício Noriega

Mauricio Noriega é um dos jornalistas esportivos mais reconhecidos do país. Ganhou o prêmio ACEESP de melhor comentarista esportivo de TV seis vezes.

Flamengo: Jorge Jesus é inspiração da torcida e assombração dos sucessores

Apaixonados e influenciadores rubro-negros são reféns da devoção pelo técnico português, e o time não sai do lugar

RIO DE JANEIRO, BRAZIL - NOVEMBER 03: Flamengo coach Jorge Jesus at Maracana Stadium on November 3, 2019 in Rio de Janeiro, Brazil. (Photo by Wagner Meier/Getty Images)  • Wagner Meier/Getty Images
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É ruim o trabalho de Tite no Flamengo. Com o melhor elenco do Brasil à disposição, ele entrega um time sonolento, sem sal, pasteurizado.

Após a pálida vitória sobre o Amazonas, pela Copa do Brasil, explodiu a ira de 40 mil flamenguistas no Maracanã e de milhões pelas redes sociais.

O ‘titismo” e o “flamenguismo” são como água e óleo.

A pergunta que fica: quem serve para o Flamengo que não seja Jorge Jesus?

A resposta que surge das arquibancadas e telas: ninguém.

Jorge Jesus é inspiração para a torcida e assombração para seus sucessores.

Desde a passagem meteórica do treinador português pelo clube, entre 2019 e início de 2020, o “flamenguismo” clama pelo retorno de seu Sebastião (Dom Sebastião I, rei de Portugal, desaparecido em 1587 na Batalha de Alcaber-Quibir. Sem descendentes, o culto à sua figura foi construído em torno da crença de que um dia ele retornaria para salvar Portugal de todos os seus problemas).

Como toda paixão popular, o Flamengo lida com extremos. O clube gera grande repercussão e tem cobertura vigorosa da mídia tradicional e da alternativa. O que abre espaço para uma produção de conteúdo declaradamente apaixonado e, muitas vezes, de cunho político-clubista.

Depois de Jesus o Flamengo teve oito treinadores. Quatro estrangeiros (Dome Torrent, Paulo Sousa, Vítor Pereira e Jorge Sampaoli) e quatro brasileiros (Rogério Ceni, Renato Portaluppi, Dorival Júnior e Tite). No período, venceu títulos importantes como Brasileiro, Copa do Brasil e Libertadores.

Nada serviu para abrandar a saudade rubro-negra.

As comparações serão sempre feitas com o ano santo de 2019. O próprio Jorge Jesus deve saber que é muito difícil que o universo conspire favoravelmente como naquela temporada. Ele sabe da paixão dos flamenguistas, e atiça a saudade, sem fazer promessas de reatar.

Jorge Jesus, se retornar um dia, também será vítima das comparações. Ele implantou no torcedor rubro-negro um parâmetro elevado de qualidade. Vitórias não bastam, é preciso que sejam avassaladoras. Conquistas devem ser dominações.

Enquanto Sebastião não reaparece para salvar o Flamengo, o time anda dois passos adiante e três para trás.

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