Pedro Côrtes
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Pedro Côrtes

Professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e um dos mais renomados especialistas em Clima e Meio Ambiente do país.

Análise: a pauta ambiental nas eleições de 2024

As questões ambientais vão entrar nos programas de governo?

Mulher com criança de colo observa rua inundada após fortes chuvas em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro  • 24/03/2024 REUTERS/Pilar Olivares
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Infelizmente, chuvas torrenciais, alagamentos, inundações, deslizamentos e ondas de calor passaram a fazer parte das preocupações cotidianas em diversos municípios. Não se tratam de efeitos transitórios de um El Niño mais intenso. As mudanças climáticas têm deixado a sua marca e intensificado os fenômenos naturais. Não raro, o volume de chuvas e as temperaturas batem recordes.

Na esteira desses eventos extremos temos as questões de saúde. À leptospirose, comum em áreas inundadas, somam-se as arboviroses (como a dengue), que proliferam em regiões quentes e úmidas. As ondas de calor debilitam especialmente as crianças pequenas e idosos.

Cabe uma pergunta: como as candidaturas de prefeitos e vereadores vão tratar as questões ambientais? Será que isso ocupará espaço nos programas de governo e nos debates?

Em muitos casos, serão necessárias soluções estruturantes, como reforço dos sistemas de drenagem urbana, realocação de pessoas que vivem em áreas de risco, recomposição de matas e áreas degradadas. Há necessidade de recursos e equipes técnicas nem sempre ao alcance dos pequenos ou médios municípios.

Aqui, faz-se necessário que soluções integradas sejam desenvolvidas, com os municípios, estados e o governo federal trabalhando de maneira integrada. Em geral, a gestão municipal deverá dar a partida, buscando os apoios e recursos necessários. Durante as eleições, vamos ver quais candidatos têm projetos efetivos e demonstram a vontade política de buscar os recursos necessários.

Há outras soluções que podem ser implementadas, como o recurso do IPTU Verde. Esse é um desconto no imposto para os imóveis que adotarem soluções que ajudem a mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Por exemplo, o plantio de árvores nativas (que ajudam na drenagem e diminuem as ilhas de calor), as calçadas com blocos e jardins lineares que permitem que parte da água da chuva seja absorvida pelo solo (diminuindo a sobrecarga dos sistemas de drenagem).

Durante os debates e a campanha eleitoral, não será difícil perceber quem se debruçou sobre esses problemas e diferenciar de quem tratou isso apenas como um adendo. A discussão desses temas requer, minimamente, um bom grau de entendimento. Será que esses temas terão a importância reconhecida? Veremos.