General preso pela PF admitiu “risco de conturbar o país” antes das eleições de 2022
Investigadores afirmam em relatório enviado ao STF que o general Mário Fernandes era um dos mais radicais do chamado “núcleo militar”
O general da reserva Mário Fernandes, preso nesta terça-feira (19) pela Polícia Federal, admitiu em uma reunião da cúpula do governo Bolsonaro, em julho de 2022, o risco de conturbar o país antes das eleições daquele ano.
O vídeo do encontro foi encontrado em um computador na casa do tenente-coronel Mauro Cid, que chefiou a ajudância-de-ordens da Presidência da República, e tornado público pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em fevereiro deste ano.
No encontro, que aconteceu na sede da Presidência da República, o general explicitou a necessidade de cobrar um prazo para que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) autorizasse o acompanhamento das eleições pelos Três Poderes.
O militar, então, propôs o que chamou de “uma alternativa se isso não acontecer nesse prazo”. Na avaliação do general, se nada fosse feito até a proximidade das eleições, “a liberdade de ação” do então presidente Bolsonaro e do governo seria “bem menor”.
“A população vai começar a acreditar que ‘não, então tá tranquilo, o governo não tomou a medida mais radical, tá tranquilo’… então acho que realmente, nós precisamos ter um prazo para que isso aconteça e não, para que eles raciocinem que é importante avaliar essa possibilidade, mas principalmente, para que uma alternativa seja tomada, como o senhor mesmo disse, antes que aconteça”, disse.
“Porque no momento que acontecer, é 64 de novo? É uma junta de governo? É um governo militar? É um atraso de tudo o que se avançou no país? Porque isso vai acontecer. O país vai ser todo desarticulado”, afirmou.
“Então, tem que ser antes. Tem que acontecer antes. Como nós queremos. Dentro de um estado de normalidade. Mas é muito melhor assumir um pequeno risco de conturbar o País pensando assim, pra que aconteça antes, do que assumir um risco muito maior da conturbação no ‘the day after’, né? Quando a fotografia lá for de quem a fraude determinar”, afirmou o general.
Mário Fernandes foi secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência da República entre outubro de 2020 e janeiro de 2023. Até março deste ano trabalhou no gabinete do ex-ministro da Saúde e deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ).
Investigado pela Polícia Federal, o general é suspeito de integrar o núcleo de oficiais de alta patente que atuaram para influenciar e incitar o apoio a outros grupos para a consumação de um golpe de Estado. Procurada, a defesa dele ainda não se manifestou.
Os delegados responsáveis pela investigação afirmam no relatório enviado ao STF nesta terça-feira que o general é “um dos militares mais radicais que integrava o mencionado núcleo militar”.
A investigação mostra que o militar “promoveu ações de planejamento, coordenação e execução de atos antidemocráticos”. De acordo com a PF, o general frequentou o acampamento montado nas adjacências do Quartel-General do Exército, em Brasília, e manteve relação direta com manifestantes radicais que atuaram após as eleições de 2022.
“Ademais, ainda mais relevante, demonstram indícios de que Mário Fernandes elaborou um detalhado planejamento operacional que tinha como objetivo executar o ministro Alexandre de Moraes e os candidatos eleitos Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho, ambos componentes da chapa vencedora das eleições”, afirmam os delegados.