Thais Herédia
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Thais Herédia

Passou pelos principais canais de jornalismo do país. Foi assessora de imprensa do Banco Central e do Grupo Carrefour. Eleita em 2023 a Jornalista Mais Admirada na categoria Economia do Jornalistas & Cia.

BC voltará a ser alvo do governo se redução de juros perder ritmo

PIB avança e receio com inflação aumenta

Sede do Banco Central em Brasília  • 23/09/2015 REUTERS/Ueslei Marcelino
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Na próxima quarta-feira o Banco Central vai anunciar redução da taxa básica dos juros em 0,50 ponto percentual, ninguém espera diferente. A dúvida que aumentou nos últimos dias é sobre o que vem a seguir.

Até agora, a sinalização do Copom para os próximos passos com a Selic é de movimentos consecutivos de queda dos juros, no plural, sem indicar onde deve parar. A pergunta que percorre as casas financeiras é se esse ritmo será mantido ou o BC vai mudar o sinal para o singular.

Na prática isso não implica numa decisão de baixar menos a taxa na próximas reuniões. Apenas dá aos diretores do Copom a liberdade de decidir sem estarem presos a um compromisso pré-assumido com mercado. O receio de economistas ouvidos pelo blog é que qualquer sinalização diferente, mesmo que faça sentido diante da conjuntura econômica, vire munição do governo, mais uma vez, contra Roberto Campos Neto.

“BC obteve sucesso em se distanciar desse ambiente de discussão. É sempre muito fácil bater no BC. Mas o que tem para ser atacado? Há uma desancoragem das expectativas para o IPCA, o que poderia justificar movimento mais cauteloso do Copom. A unanimidade na votação das decisões do Comitê, como acontece desde setembro passado, pode contribuir para responder à pressão política”, disse o economista de uma gestora tradicional do país.

O presságio para nova rodada de chumbo grosso surgiu depois que Lula voltou a chamar Roberto Campos Neto de “esse cidadão”, dizendo que não entende porque ele não baixa mais os juros, numa entrevista recente. A queda na popularidade do presidente petista também aciona reação do governo e qualquer movimento que desestabilize isso deve ser rechaçado.

Economistas estão divididos sobre o momento em que o BC vai mudar o sinal sobre suas próximas decisões. Uma parte considera que ainda não há necessidade de mudar a comunicação.

“Não existe motivo urgente para mexer na comunicação. Pode deixar isso para mais frente. O Copom pode usar a ata da reunião para antecipa o debate sem gerar muito ruído. A preocupação com a inflação de serviços e com a dinâmica inflacionária é real, mas tem também o cenário internacional que deteriorou”, disse Felipe Sischel, economista-chefe da Porto Asset.

Há muitos que dizem que a comunicação do BC precisa ser a mais precisa possível. Nas últimas semanas a fala de diretores do Comitê começaram a preparar o mercado para uma mudança. O resultado do IPCA e da atividade econômica reforçaram a leitura do mercado de que é chegada hora do BC mexer na sinalização. A previsão para a Selic no final do ano se mantém na casa do 9%.

A inflação de serviços está no radar do Copom há meses. As surpresas com a atividade econômica e mercado de trabalho aquecidos aumentam essa preocupação. O problema é a pressão que um crescimento mais forte da economia pode gerar nos preços. Os preços dos serviços reagem a emprego e renda, ambos com ótimo desempenho desde 2023, numa dinâmica que pode até desacelerar um pouco, mas não há perdas à vista.

Para completar, o Fed - BC americano, vai demorar mais tempo para iniciar seu ciclo de queda de juros. A aposta majoritária no mercado é que comece em junho. Além do adiamento, o mercado está revendo o movimento total da queda. Há poucos meses atrás, gestores esperavam até sete cortes. Agora, muitos reveem para um movimento de três reduções.

A demora do movimento do FED mantém câmbio pressionado, aciona aversão ao risco e pode implicar em menor fluxo de investimentos em países emergentes, como o Brasil. Esse comportamento já é visível na retirada de capital estrangeiro da bolsa de valores brasileira. Até a semana passada, o saldo estava negativo em mais de R$ 24 bilhões.

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