Por que o crescimento do PIB do 2º trimestre pressiona a inflação?
Há preocupação com a pressão inflacionária que este desempenho provocará, levando BC a subir os juros inevitavelmente a partir de setembro
O crescimento de 1,4% do PIB do segundo trimestre é uma boa notícia. O motor da atividade econômica está forte e acelerado, com desempenho mais espalhado pelos setores e com maior equilíbrio entre a oferta e a demanda.
Ainda assim, surgiu preocupação com a pressão inflacionária que este desempenho vai provocar, levando BC a subir os juros inevitavelmente a partir de setembro.
Para entender por que a dinâmica da atividade econômica pode gerar mais inflação, a economista Marcela Kauwati, da Lifetime Investimentos, desmembrou os componentes do PIB entre os setores que são cíclicos, ou seja, aqueles mais voláteis, que respondem mais rapidamente às mudanças nos juros e a impulsos sobre a demanda, e os não cíclicos, aqueles mais resilientes ao longo do tempo – e, portanto, menos voláteis.
A economista explica que no segundo trimestre os componentes cíclicos voltaram a acelerar com mais força. É o caso da indústria da transformação, da construção civil, comércio, serviços como transporte, correio e comunicação, típicos da cesta de consumo das famílias.
Exatamente aqueles que tiveram o melhor desempenho no segundo trimestre, segundo IBGE.
“O mercado de trabalho aquecido e o impulso fiscal estão mais do que compensando a taxa de juro, que está restritiva em 10,50%. A política monetária faz um esforço de um lado, tentando segurar o crescimento dessa demanda, e a política fiscal e a geração de empregos vão na direção contrária”, disse Marcela Kawauti.
Entre os componentes não cíclicos estão a agropecuária, a indústria extrativa, atividades financeiras e imobiliárias, defesa, saúde e educação do setor público e a seguridade social. São fatores de crescimento menos voláteis, mais resilientes e menos sensíveis à pressão de demais.
A produção de alimentos e extração mineral atendem também a demanda externa.
O impulso fiscal citado pela economista é resultado de uma série de canais de transferência de renda que foram turbinados no governo Lula, especialmente no primeiro semestre deste ano.
A expansão dos gastos públicos que tem sustentado boa parte da demanda doméstica. O aquecimento do mercado de trabalho também ajuda, com alta na massa salarial e crescimento do emprego formal.
Entre os canais de transferência pública de renda em 2024 estão o pagamento dos precatórios que estavam represados em R$ 98 bilhões, a antecipação do 13º salário para aposentados e pensionistas, aumento real do salário mínimo, reajuste salarial de servidores públicos, a disparada na concessão de benefícios sociais como o BPC e o aumento do Bolsa Família.
A inflação já traz sinais de pressão há alguns meses. E o Banco Central subiu o tom nos alertas sobre a chance de o curso dos juros mudar para alta. Mesmo errando na comunicação nas últimas semanas, os diretores do Copom agora tem uma pressão contundente para aumentar a Selic e iniciar um ciclo de alta da taxa.
“O Copom nunca ficou tão pouco tempo com juro parado para em voltar a subir a taxa. Foram três meses, ou apenas duas reuniões, entre a paralisação e, agora a partir da próxima reunião, retomar a elevação. A reversão esperada nessa trajetória da Selic é importante, não será só um ajuste”, alerta a economista da LifeTime Investimentos.
Marcela Kawauti ressalva a importância de, além de acertar na dose da alta dos juros, o BC precisa ajustar sua comunicação para gerir o próximo ciclo. A próxima reunião do Copom está marcada para os dias 17 e 18 de setembro. A economista ainda tem uma breve expectativa de que o comitê consiga pelo menos adiar a alta na Selic.
“O crescimento está mais generalizado e esse é um dos motivos pelos quais estou convencida de que não precisa subir os juros agora. Nós tivemos alta da formação bruta de capital fixo, ou seja, do investimento, e dos estoques na indústria. Essa alta do estoque é para regular oferta e demanda”, afirma.
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