Com recessão no radar, especialistas apontam como montar carteira de investimentos
Analistas recomendam títulos atrelados à inflação, debêntures incentivadas e papéis de empresas mais resilientes, além do mercado internacional
O temor de uma recessão nos Estados Unidos ganha corpo em meio a um ciclo de alta de juros para controlar a inflação recorde em mais de 40 anos na maior economia do mundo. Esse movimento, comumente conhecido por reduzir o poder de compra da população e aumentar o desemprego, deve acionar um sinal de alerta, sobretudo, nos investidores menores.
Diante desse esse cenário, especialistas entrevistados pelo CNN Brasil Business apontaram que a saída para os investidores montarem suas carteiras é alocar o capital em títulos atrelados à inflação, debêntures incentivadas e papéis de empresas mais resilientes.
Com o Índice de preços no consumidor (IPCA) a 11,89% no acumulado de 12 meses, Rodrigo Sgavioli, head de alocação e fundos de research da XP, diz que entre os indexadores de renda fixa, o foco deve ser a alocação em inflação, como uma possível proteção para o cenário inflacionário atual.
“O aumento dos riscos fiscais também tende a precificar uma inflação mais alta do que o Boletim Focus ou analistas preveem, gerando maior retorno no futuro”. O especialista da XP subiu sua previsão inflacionária de 4,5% a 5% para 2023.
Bruna Marcelino, estrategista-chefe da Necton Investimentos, afirmou também que, apesar do mercado estar projetando uma deflação nesse mês por conta de benefícios sociais e diminuição no preço do combustível, as últimas medidas do governo irão injetar dinheiro na economia via transferências governamentais, “o que tende a gerar uma inflação maior no futuro”.
Dessa forma, ela sugere os fundos de debêntures incentivadas, isentos de imposto de renda para pessoa física e que podem ter seu rendimento atrelado à inflação. O Tesouro IPCA+, por exemplo, varia de 15% a 22,5% de IR, dependendo do período do resgate.
Esse modelo de debênture é utilizado por empresas para executar obras ou serviços na infraestrutura do país, como aeroportos e estradas, por isso não pagam IR.
Ações
Para Gustavo Pazos, analista do time da Warren, o mais indicado são as companhias contra-cíclicas. Já que as empresas conhecidas como cíclicas – que tem seus resultados afetados pela economia real – tendem a ser mais sensíveis em períodos de recessão.
O especialista sugere o setor elétrico, em que empresas conseguem repassar a inflação via seus contratos e têm um fluxo de caixa “previsível e resiliente a ciclos”.
Porém, adverte que o investidor não pode esperar a recessão chegar para mudar sua composição acionária, já que o mercado precifica as questões políticas e econômicas antes. “A gente nem chegou na recessão técnica, e as ações de varejo já caíram”.
Rodrigo Barreto, analista de investimentos da Necton, também diz que o investidor precisa ser mais seletivo na escolha das ações, “dando preferência às boas geradoras de caixa e pagadoras de dividendos, como Taesa, Sanepar e Copasa”.
Sgavioli, por outro lado, afirma que, neste momento, é importante terceirizar as operações em bolsa para gestores de multimercados. “Porque eles estão conseguindo fazer operações que geram retorno, já que possuem uma flexibilidade e o conhecimento de mudar a estratégia [dos fundos] de acordo com as mudanças no mercado”.
De todo modo, todos destacaram que por conta da eleição – marcada para outubro – a renda variável tende a ter uma maior volatilidade, o que deve estar no radar do investidor.
Alocação no exterior
Os especialistas recomendaram também a realização de investimentos no exterior. O head da XP afirmou que, em uma recessão, a tendência é que o dólar se valorize porque há uma fuga de capital aos Estados Unidos, já que o país começa a subir os juros.
Assim, ele recomenda que o investidor tenha uma parcela em fundos que possuam uma estrutura de hedge cambial, ou seja, que usem a moeda norte-americana para se proteger.
O analista sugere também exposições em renda variável internacional porque “os outros países nos dão acesso a mercados que não existem no Brasil”. Porém, ele afirma não ser recomendável para acionistas ultraconservadores, apenas para moderados e agressivos, devido o risco e a volatilidade.
A estrategista-chefe da Necton Investimentos, por outro lado, acredita na exposição à China, pois, “mesmo com a política de Covid-zero no país, os dirigentes do governo seguem reafirmando a meta de crescimento do PIB para este ano. E a expectativa é que quando a China fizer sua reabertura total, exista uma recuperação nas ações chinesas”.
Além disso, na contramão das principais economias, a China está com inflação controlada.