Entre a bola e a Selic: empresas ajudam jogadores de futebol a não perderem tudo
Top Soccer e Delta Flow buscam ajudar futebolistas a organizar as finanças pessoais e não cair em desordem financeira após a fama
A história é conhecida no Brasil: um menino de baixa renda tem o sonho de se tornar jogador de futebol, tentando seguir os mesmos passos de seus ídolos, que podem ser Neymar, Ronaldo, Romário, Ronaldinho Gaúcho, Kaká ou qualquer outro craque que fez história na seleção brasileira.
Desde criança ele aprende tudo o que precisa para alcançar o objetivo, como dar um chapéu, driblar em velocidade, bater um pênalti perfeito e cativar a torcida no estádio. Tudo para se dar bem em um campo. Fora dele, porém, as linhas podem ficar mais borradas. Em especial quando o assunto é a vida financeira.
Por causa da desconexão entre essas duas realidades, empresas têm oferecido programas para ajudar jogadores a construírem uma perspectiva de futuro após o término da carreira e a manter o patrimônio conquistado.
A Delta Flow Investimentos, escritório credenciado ao BTG Pactual, e a Top Soccer são dois exemplos de companhias que nasceram com esse objetivo.
”A vida do jogador é muito curta, profissionalmente falando, eles começam em ascensão e ganham muito dinheiro em pouco tempo. Então, se não tiver um planejamento financeiro, ele pode pôr tudo a perder”, diz Bruno Venditti, sócio-fundador da Delta Flow Investimentos.
O plano da Delta Flow surgiu após Venditti perceber a falta de conhecimento sobre investimentos de jogadores e pessoas do meio futebolístico.
“Geralmente, treinadores e empresários já têm um conhecimento maior sobre o que é Selic, mas os jogadores muitas vezes não têm. Por isso, precisamos entender que eles são profissionais de um nicho muito específico e que requerem uma conversa bastante específica”, afirma.
A Top Soccer também teve início após perceber essa carência do mercado, há 13 anos. O sócio-fundador Marcelo Claudino explica que a mudança de mentalidade é fundamental para o atleta sair da inércia financeira e não observar, lentamente, seu patrimônio ruir.
“É preciso que o jogador entenda como investir em uma ação, mas por ele mesmo. Ter conhecimento financeiro para saber onde aplicar bem sem dinheiro, sem ter que precisar de ajuda no futuro”, diz Claudino.
O empresário ressalta que jogadores de todos os tipos podem ser instruídos, desde os garotos que estão iniciando a carreira até os que estão no auge da fama e do dinheiro e os ex-atletas.
Foco no futebol hoje, mas amanhã…
Em média, jogadores acima dos 32 anos já são considerados “velhos demais para a profissão” e não é incomum que se aposentem após atingir essa marca. Exemplos memoráveis são de Adriano Imperador, aposentado aos 36 anos, e Ronaldo Fenômeno, aos 34 anos.
É claro que situação mudou um pouco nos últimos anos. Jogadores como Gianluigi Buffon (43 anos), Zlatan Ibrahimović (40 anos), Cristiano Ronaldo (36 anos) e Lionel Messi (34 anos), por exemplo, ainda jogam em alto nível. No entanto, ainda são exceções.
Mais raro ainda são atletas que esperaram passar dos 40 para deixarem os gramados. Entre os casos mais emblemáticos do Brasil estão o flamenguista Léo Moura, o são-paulino Rogério Ceni e até mesmo o herói da Copa do Mundo de 1994, Romário – todos aposentados aos 42 anos.
A maior dificuldade para esses esportistas é saber manter o patrimônio protegido e dar continuidade à renda que eles conseguiram atingir durante os poucos anos de trabalho. No auge da carreira, com os holofotes em cima e uma rotina de treinamentos e jogos completamente diferentes da vida de aposentado, nem sempre é fácil ter consciência disso.
No mundo não faltam exemplos de jogadores que perderam tudo ou pelo menos parte da fortuna depois que pararam de jogar por conta de gastos excessivos.
Um dos casos notórios é o do craque brasileiro Garrincha, que se viu em uma situação financeira bem diferente daquela que tinha quando deixou os campos.
O chileno Iván Zamorano é outro exemplo. Ele fez investimentos arriscados e, sem retorno, perdeu o que tinha. É possível também citar o ídolo argentino Diego Maradona, considerado um dos maiores jogadores da história, que morreu no ano passado. Ele que declarou falência e passou a ganhar dinheiro com a sua imagem pós-aposentadoria.
O que os leva para o cheque especial
São recorrentes os casos entre jogadores que perdem o que arrecadaram nos anos na ativa. Segundo Venditti, os fatores mais comuns que levam a isso são a prestação de auxílio a familiares e amigos, entrada em ciladas e negócios que não dão retorno, bem como em pirâmides financeiras, além de gastos excessivos em bens supérfluos, que eles não tinham acesso antes da consolidação da carreira.
“As duas principais causas de perda de dinheiro são a falta de disciplina e as alocações ruins com os gastos excessivos. É um conjunto de coisas que acontecem pela falta de educação financeira. Tomar golpes no começo é um clássico”, diz o empresário.
“A disciplina é complicada. Você precisa segurar o impulso, principalmente de jogadores jovens, que ganham valores significativos com pouca idade — e aí você tem a situação de um poder de fazer coisas que pessoas da mesma idade não conseguem fazer, e isso mexe muito”, afirma.
Venditti analisa que, em geral, os jogadores são investidores conservadores, e optam por alocar seus ganhos em renda fixa, poupança, entre outros. “Eles gostam muito de ganhar, mas não gostam de correr risco”, explica.
Mudança de mentalidade
O sócio fundador da Top Soccer, Marcelo Claudino, considera que houve uma mudança na mentalidade financeira nos atletas de hoje em comparação com os atletas do passado. Para ele, a internet fez toda a diferença nesse processo.
“O jogador de hoje lê na mídia os exemplos fracassados do passado, de esportistas que perderam tudo por investir errado ou por não conseguir dar continuidade ao seu patrimônio após se aposentar”, afirma.
Além disso, a internet possibilita a abertura de contas em bancos mais rapidamente e proporciona conhecimentos sobre finanças pessoais a todo o momento, bastando apenas uma pesquisa sobre o tema. Com um clique, é possível ter acesso a dicas de especialistas, explicações de jargões financeiros e muito mais.