Itamaraty avalia que África do Sul terá “mais desafios” enquanto transmite presidência do G20

Percepção é de que Trump será par para Milei; em 2025, EUA fará parte da “troika”, como presidente posterior do G20

Danilo Moliterno, da CNN, Rio de Janeiro
Presidente Lula durante discurso na Cúpula de Líderes do G20, no Rio de Janeiro  • Ricardo Stuckert/PR
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O Brasil transmite nesta terça-feira (19) a presidência do G20 à África do Sul, enquanto seus diplomatas celebram a declaração de líderes assinada por todos os membros do grupo. A avaliação de membros do Ministério de Relações Exteriores, no entanto, é de que Cyril Ramaphosa enfrentará “mais desafios” do que Lula.

O cenário mais adverso se resume ao retorno de Donald Trump à Casa Branca. Segundo fontes, a percepção é de que o republicano se somará a Javier Milei, presidente da Argentina e ponto dissonante na Cúpula do Rio de Janeiro, na aversão à agenda multilateral.

A partir da transmissão de Lula a Ramaphosa, os Estados Unidos entram na chamada “troika do G20”, que reúne a presidência anterior, atual e posterior do grupo (no caso, o gigante norte-americano, em 2026). Neste primeiro momento de interação, diz um diplomata, “será possível medir a temperatura” das ações de Trump.

Para estes representantes das relações exteriores, o G20 e outros grupos internacionais são sensíveis à falta de compromisso político, e o temor é de que o não engajamento dos EUA esvazie o fórum. “A perspectiva é ruim, [a gestão Trump] deve afetar negativamente o G20. Algum preço será cobrado, resta saber qual”, disse um diplomata sob reserva.

Apesar de Milei ter feito jogo duro contra menções à taxação de super-ricos e traços da Agenda 2030, como empoderamento feminino e reconhecimento da calamidade climática, estes assuntos entraram na declaração final. No fim, a Argentina também assinou a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, liderada pelo Brasil.

Acontece, porém, que a economia americana é cerca de 40 vezes maior que a Argentina, e o poder político para interditar debates seria superior. Em 2019, a Cúpula do G20 de Osaka, no Japão, terminou sem consenso, com os Estados Unidos de Trump optando por não endossar a declaração final, esvaziando a definição.

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