Pisos da Saúde e Educação podem ser cumpridos só a partir de 2024, diz relatório do TCU

Fazenda calcula que gastos poderiam subir até R$ 20 bilhões caso governo fosse obrigado a cumpri-los ainda neste ano; aval daria respiro fiscal

Danilo Moliterno, da CNN, São Paulo
Fachada do prédio do Tribunal de Contas da União (TCU)
Fachada do prédio do Tribunal de Contas da União (TCU), em Brasília  • Foto: Divulgação/Flickr TCU
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Um relatório da área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU) obtido pela CNN aponta que o governo pode cumprir os pisos constitucionais da Saúde e Educação somente a partir de 2024.

O parecer é uma resposta a consulta do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e contribuiria com os esforços do Executivo para ajustar o fiscal.

Parte das justificativas do governo para não cumprir a regra é o seu impacto nas contas públicas. Caso respeitado o piso, haveria gasto extra de R$ 20 bilhões, o que — segundo membros do governo — poderia causar um "shutdown" em parte das pastas.

O problema surgiu para o governo com a sanção do novo marco fiscal, em agosto deste ano. A regra derrubou o antigo teto de gastos, que anulava o trecho constitucional que prevê destinação de 15% das receitas da União para a Saúde.

"Mudanças nas aplicações mínimas em ações e serviços públicos exigidas pela Constituição Federal decorrentes de alterações do texto constitucional não retroagem, salvo quando houver expressa cláusula de vigência em sentido diverso, devendo ser aplicadas somente a partir do orçamento seguinte", diz o parecer.

O relatório da Unidade de Auditoria Especializada em Orçamento, Tributação e Gestão Fiscal do TCU foi entregue ao relator do processo na Corte, Augusto Nardes. Após o ministro apresentar seu parecer, a decisão vai ao Plenário.

O presidente do TCU, Bruno Dantas, afirmou em evento na última quinta-feira (5) que a consulta do Ministério da Fazenda deve ser avaliada no dia 20 deste mês.

Na peça, a área técnica destaca que a obrigatoriedade para o piso "mexeria com todo o complexo orçamentário". Com isso "toda a alocação orçamentária deveria ser repensada e as prioridades reavaliadas, pois as fatias do orçamento já não seriam as mesmas de antes".

"Dados esses impactos, a acomodação de um novo mínimo constitucional possui um lócus e um momento específicos para ser viabilizada: a elaboração do orçamento", expressa.

Projeto aprovado no Senado mexe em piso

O Senado aprovou na quarta-feira (4) um projeto de lei complementar que permite que o governo pague os pisos com base na receita estimada pelo Orçamento de 2023. A cifra prevista na peça está abaixo da realizada.

Enviado à sanção presidencial, a regra que consta no projeto resultaria em gasto adicional de R$ 5 bilhões, segundo cálculos do governo. A despesa extra é menor que a projetada inicialmente (R$ 20 bilhões), mas o governo tenta evitá-la no TCU.

Com isso, há três cenários possíveis: não cumprimento do piso, com impacto fiscal zero; cumprimento do piso com base na Receita Corrente Liquida (RCL) prevista, com impacto de R$ 5 bilhões; e cumprimento com base na receita efetivamente realizada, com impacto de R$ 20 bilhões.

O relatório da área técnica do TCU pontua que "as regras de mínimos constitucionais impõem, como a própria nomenclatura diz, valores mínimos a serem aplicados".

"O que não impede que o Poder Executivo, se as circunstâncias assim o permitirem, possa aplicar valores superiores àqueles exigíveis", completa.

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