Saiba se vale a pena pagar compras de supermercado com cartão de crédito
Uso do crédito sem planejamento para compra de alimentos pode não ser um bom negócio, aumentando a chance do consumidor se enrolar financeiramente
Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) 69% das compras feitas nesse tipo de cartão vão para compra de alimentação ou de supermercado.
No entanto, o uso da modalidade de crédito sem planejamento e para compra de alimentos pode não ser um bom negócio, aumentando a chance de o consumidor “se enrolar” financeiramente.
Segundo a coordenadora do programa Financeiro do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), Ione Amorim, o uso do cartão de crédito tem que estar vinculado ao seu nível de renda e à sua média de consumo.
“Não é o limite que determina o uso, e sim, a sua capacidade de pagamento”, explica.
O cartão de crédito não seria um vilão se o consumidor tiver disciplina financeira e se conseguir manter o pagamento das faturas dentro do prazo de vencimento, mas nem sempre isso se encaixa na realidade dos consumidores.
O cartão de crédito tem um caráter de meio de pagamento e de linha de crédito, que a pessoa entra quando não paga a fatura no vencimento, o que resulta nos juros rotativo.
Em maio deste ano, os juros cobrados pelos bancos no rotativo do cartão de crédito subiram para 455,1%, contra 447,7% em abril, de acordo com dados do Banco Central (BC).
“Então, quando a gente está indo ao mercado comprar, por exemplo, um uma caixa de leite que em tese custaria R$ 10, e você não consegue pagar a fatura no vencimento, esse mesmo alimento vai ser encarecido com uma taxa de juros média de 12% e 14% ao mês”, explica.
Com isso, o cartão de crédito reduz o seu poder de compra quando o cliente entra no rotativo, pois ele está inflacionando indiretamente o preço dos bens adquiridos no supermercado.
“É um alto risco utilizar o cartão de crédito não sabendo se vai conseguir pagar a fatura integralmente no vencimento”, afirma a especialista.
Organização financeira
Se o consumidor não se organizar financeiramente e entrar no parcelamento, por exemplo, ele passa a acumular outra dívida e gerar novos endividamentos com os gastos no mercado se continuar usando esse cartão.
“Ele vai ter dívidas parceladas, que a taxa de juros também é bastante elevada, e o saldo que vai ser corrigido pelo crédito rotativo”, diz a coordenadora do Idec.
“Isso rapidamente leva para uma situação de descontrole, por isso, o cartão de crédito é visto frequentemente em todas as estatísticas apontado como o maior problema de endividamento das famílias”, ressalta.
A especialista destaca que o supermercado é um ambiente que você precisa ser quase um “engenheiro financeiro” para fazer uma boa gestão, com pesquisa de preço, seleção de produtos, evitar armadilhas e comprar o necessário.
“Esse contexto leva à necessidade de um planejamento mínimo. O cartão ele vai fazer parte dessas medidas que podem trazer benefícios ao consumidor, mas desde que ele utilize como meio de pagamento, nunca como o lado B do cartão, que é o crédito rotativo. Esse é o vilão que, infelizmente, compromete a renda das famílias e acaba indiretamente aumentando o preço desses produtos”, diz Ione.
Como se organizar para as compras no mercado
Para o professor da FIA Business School, Celso Grisi, algumas dicas para se organizar para compras no supermercado são:
- Fazer uma lista com suas compras mensais, evitando gastos supérfluos.
- Verificar os preços das marcas e dos produtos a serem comprados em alguns supermercados.
- Estar atentos às promoções.
- Evitar os produtos importados que são cotados a partir das cotações do dólar ou do euro.
O professor ainda ressalta que o cartão de crédito é um instrumento financeiro relevante para as compras das pessoas e famílias, mas seu uso disciplinado é imprescindível, de forma a não endividar seu usuário.
“É o caso dos pagamentos parciais das faturas que se vencem, refinanciando o saldo devedor para o próximo período. Neste caso, os juros cobrados por esses períodos são muito altos e levam o usuário a um nível de endividamento elevado, quando não à inadimplência”, afirma.
Quando vale a pena?
Quando usado de forma consciente e organizada, o cartão de crédito pode ser um grande aliado e instrumento financeiro relevante para as compras das pessoas e famílias, dizem os especialistas.
“Pelo crédito, a compra é feita e o pagamento pode ocorrer em uns bons dias depois. Tanto melhor, se o usuário conseguir administrar a data de pagamento do cartão, de maneira a se beneficiar de um prazo mais amplo e ainda melhor se o usuário conseguir fazer com que a data de vencimento de seu cartão coincida com a data de seus recebimentos”, diz o professor Celso GrisI.
Além disso, o especialista em finanças e investimentos, Hulisses Dias, destaca vantagens que os cartões de crédito podem oferecer aos seus clientes, como, por exemplo, os programas de milhagem/benefícios, além de cobrir certas despesas de viagem.
“Caso você participe de um programa de milhas, elas podem ser transformadas em outros benefícios. Então, ela é um direito que te da oportunidade de transformar isso em dinheiro ou em benefícios que a pessoa pode gastar como bem entender”, afirma o especialista.
Alguns supermercados também lançaram seus próprios cartões. Neste caso, são concedidos descontos no valor dos itens comprados. Por exemplo, estes cartões costumam oferecer descontes de até 20% sobre produtos das marcas próprias.
*Sob supervisão de Ana Carolina Nunes