Mesmo após corte nos juros, ações do varejo continuam em baixa; entenda o cenário

Juros mais amenos costumam beneficiar segmento varejista, mas movimento dos papéis tem sido na direção contrária às expectativas

Amanda Sampaio, da CNN, São Paulo
Ações do setor estão em baixa mesmo após corte nos juros  • Fernando Frazão/Agência Brasil
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Mesmo após o a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) em reduzir a taxa de juros em 0,5 ponto percentual (p.p.) na quarta-feira (2), as ações do setor de varejo seguem em baixa.

O movimento vai na direção contrária das expectativas do mercado, uma vez que, com a redução nos juros, os custos de financiamento e de crédito ficam mais "baratos".

Com isso, a queda na Selic poderia beneficiar principalmente os papeis de setores como varejo, shoppings, construção e educação.

Porém, logo no dia seguinte ao anúncio do BC, as ações de varejistas, apesar de abrirem a sessão no positivo, inverteram sinal ao longo do dia e acabaram figurando entre as maiores quedas do Ibovespa na quinta-feira (3).

Os papéis da Via, por exemplo, fecharam em baixa de 8,65%. Já a startup Méliuz teve queda de 6,24%, enquanto o Magazine Luiza perdeu 5,11%.

Na sexta-feira (4), o setor continuou operando no vermelho. As ações da Via fecharam em queda de 1,58%, a Marisa perdeu 1,10% e o Magazine Luiza teve baixa de 3,16%.

Nesta segunda-feira (7), o fim do pregão também foi de perda de 6,94% para a Méliuz, 1,63% para a Magazine Luiza e 0,62% para as Lojas Renner.

O consultor de mercado da Raz Consulting Rafael Ribeiro, reitera que o cenário de corte nos juros é favorável ao setor, mas explica que a baixa se deve à retirada de capital estrangeiro de acionistas após o corte na Selic.

"É lógico que, com a diminuição da taxa de juros, a bolsa perdeu muito, uma vez que tem muito investidor estrangeiro que estava aqui somente em função das taxas super elevadas", avalia.

"Esse capital especulativo vai embora conforme a taxa básica diminui", complementa.

Já para Marco Caruso, economista-chefe do PicPay, a principal explicação para o movimento está na falta de condições macroeconômicas para um juro baixo de forma consistente.

“Apesar de o Copom ter ‘surpreendido’ com o corte de 0,50 p.p., quando olhamos os vencimentos da curva futura de juros, a partir do terceiro ano, o que vemos, na verdade, são taxas subindo”, avalia.

Para Caruso, essa movimentação deixa claro que as condições para que a queda na Selic se sustente ao longo do tempo não estão dadas, mesmo que o mercado entenda que o Banco Central (BC) possa “exagerar” nos cortes neste e no próximo ano.

“Isso tem cara de um certo ‘exagero’, então a curva futura lá na frente não está aliviando tanto quanto se imaginava”, explica.

Além disso, Caruso também destaca que o setor está sofrendo com a atividade econômica.

“A partir daqui, a atividade econômica é muito mais complicada”, afirma.

“É como se a gente estivesse vivendo os melhores momentos da atividade econômica nesse primeiro semestre, mas a partir daqui tem uma desaceleração e quem sabe até números negativos de PIB”, avalia.

O economista explica que especialistas vinham revisando o PIB para cima devido a fatores que não colaboram muito com o varejo.

“O PIB, que o Focus já estima acima de 2%, ele só está acima de 2% por causa de setores que têm menos a ver com a atividade doméstica. Então, o resto está sofrendo”, conclui.

Veja também: Após Copom, projeção da taxa Selic cai para 11,75% ao ano em 2023

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