Cidade de SP perdeu 4 dos 10 vereadores mais votados em 2020
Ao todo, dos 55 vereadores eleitos na capital paulista, nove não vão terminar o mandato, segundo levantamento da CNN
Dos dez vereadores mais votados em São Paulo nas eleições de 2020, quatro deixaram a Câmara Municipal para assumir outros cargos, segundo levantamento da CNN.
Ao todo, dos 55 vereadores eleitos na capital paulista, nove não vão terminar o mandato (veja abaixo o levantamento completo). Destes nove, seis deixaram a legislatura em decorrência da disputa nas eleições de 2022.
O cenário reflete um movimento conhecido no meio político, segundo especialistas.
“As Casas legislativas no Brasil são utilizadas pelos políticos para se projetarem para outros cargos”, explica a cientista política Beatriz Rey, que é pós-doutoranda na Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora na Fundação POPVOX, nos EUA.
O cientista político Rui Tavares Maluf compartilha opinião semelhante. “Na medida em que a eleição municipal é separada [das eleições gerais], você já cria um incentivo para que os vereadores das maiores Câmaras possam visualizar sua trajetória política, que de certa maneira é pensada sempre na direção das instâncias superiores — embora não exista, rigorosamente, uma hierarquia”, afirma.
Veja a situação política dos vereadores eleitos por SP em 2020:
- Eduardo Suplicy (PT) – Eleito deputado estadual em 2022
- Milton Leite (União) – Segue no cargo
- Delegado Palumbo (MDB) – Eleito deputado federal em 2022
- Felipe Becari (PSD) – Eleito deputado federal em 2022 (depois assumiu a Secretaria Estadual de Esportes)
- Fernando Holiday (PL) – Segue no cargo
- Erika Hilton (PSOL) – Eleita deputada federal em 2022
- Silvia da Bancada Feminista (PSOL) – Segue no cargo
- Roberto Tripoli (PV) – Segue no cargo
- Thammy Miranda (PSD) – Segue no cargo
- André Santos (Republicanos) – Segue no cargo
- Rute Costa (PL) – Segue no cargo
- Eduardo Tuma (PSDB) – Foi indicado como conselheiro do TCM-SP (Tribunal de Contas do Município de São Paulo)
- Sansão Pereira (Republicanos) – Segue no cargo
- Luana Alves (PSOL) – Segue no cargo
- Atílio Francisco (Republicanos) – Segue no cargo
- João Jorge (MDB) – Segue no cargo
- Faria de Sá (PP) – Morreu em 2022
- Carlos Bezerra Jr. (PSD) – Segue no cargo
- Rubinho Nunes (União) – Segue no cargo
- Eli Corrêa (União) – Segue no cargo
- Donato (PT) – Foi eleito deputado estadual em 2022
- Rodrigo Goulart (PSD) – Segue no cargo
- Alessandro Guedes (PT) – Segue no cargo
- Janaína Lima (PP) – Segue no cargo
- Adilson Amadeu (União) – Segue no cargo
- Xexéu Tripoli (União) – Segue no cargo
- Jair Tatto (PT) – Segue no cargo
- Celso Giannazi (PSOL) – Segue no cargo
- Dra. Sandra Tadeu (PL) – Segue no cargo
- Juliana Cardoso (PT) – Eleita deputada federal em 2022
- Toninho Vespoli (PSOL) – Segue no cargo
- Marlon Luz (MDB) – Segue no cargo
- George Hato (MDB) – Segue no cargo
- Aurélio Nomura (PSD) – Segue no cargo
- Senival Moura (PT) – Segue no cargo
- Alfredinho (PT) – Assumiu como suplente de deputado federal em 2023
- Arselino Tatto (PT) – Segue no cargo
- Fabio Riva (MDB) – Segue no cargo
- Isac Félix (PL) – Segue no cargo
- Camilo Cristófaro (Sem partido) – Cassado após declaração racista em sessão da Câmara
- Ricardo Teixeira (União) – Segue no cargo
- Edir Sales (PSD) – Segue no cargo
- Ely Teruel (MDB) – Segue no cargo
- Marcelo Messias (MDB) – Segue no cargo
- Elaine do Quilombo Periférico (PSOL) – Segue no cargo
- Gilberto Nascimento Jr. (PL) – Segue no cargo
- Eliseu Gabriel (PSB) – Segue no cargo
- Dr. Milton Ferreira (Podemos) – Segue no cargo
- Sandra Santana (MDB) – Segue no cargo
- Danilo do Posto de Saúde (Podemos) – Segue no cargo
- Cris Monteiro (Novo) – Segue no cargo
- Sidney Cruz (MDB) – Segue no cargo
- Sonaira Fernandes (PL) – Segue no cargo
- Paulo Frange (MDB) – Segue no cargo
- Rinaldi Digilio (União) – Segue no cargo
No caso do vereador mais votado nas últimas eleições municipais, Eduardo Suplicy (PT), que recebeu 167.552 votos, o parlamentar não terminou o mandato porque foi eleito deputado estadual em 2022.
Segundo Suplicy, que foi vereador em dois mandatos, senador por três legislaturas, além de deputado estadual atualmente, as mudanças em sua carreira política sempre estiveram associadas a ambições coletivas.
“Eu me tornei candidato quando houve inúmeras pessoas bem representativas que me disseram ‘seja candidato’”, disse à CNN.
Eleito vereador pela primeira vez em 1988, o parlamentar voltou à Câmara Municipal em 2017, depois de não conseguir se eleger senador pelo quarto mandato nas eleições de 2014.
“Embora o Suplicy nunca tenha sido do Executivo, ele foi senador e ainda fez um movimento de volta, porque também há uma reacomodação. Quando você perdeu alguma eleição, a eleição para vereador é uma forma de você gerar fôlego de novo”, avalia o cientista político Rui Tavares Maluf.
O parlamentar, no entanto, defende a atuação na Câmara. “A vereança constitui um cargo de grande importância e que, sobretudo, faz com que nós tenhamos uma relação com os eleitores muito próxima”, explica o petista.
Na sequência dos dez vereadores mais votados, outros três também deixaram a Casa para assumir novos cargos: Delegado Palumbo (MDB), Felipe Becari (PSD) e Erika Hilton (PSOL), respectivamente, 3º, 4º e 6º colocados em 2020.
O cientista político ressalta, porém, que o número de votos que elegeu o candidato não é o único fator de decisão na hora concorrer em outra eleição.
“Você não precisa ser o mais bem votado para ter boas perspectivas eleitorais. Se você é eleito na primeira rodada isso já quer dizer que você tem algum cacife eleitoral”, afirma.
Impactos
Pedir licença do mandato implica em uma série de consequências para além da trajetória pessoal do político, segundo os especialistas.
“Sempre que você tem uma interrupção na carreira de um parlamentar, você perde o conhecimento que esse parlamentar acumulou durante o mandato dele”, aponta Rey.
Além disso, a licença de um vereador exigirá a substituição por um suplente — seguindo os critérios estabelecidos pela Justiça Eleitoral.
“Se o candidato está dentro de uma estratégia que não é só dele, dentro da sua ambição pessoal, esse tipo de acomodação com os suplentes é mais fácil. Mas é claro que tem muita gente que faz carreira mais solo e, obviamente, essas coisas não estão pensadas”, afirma Tavares Maluf.
Segundo o cientista político, que é especialista em discussões envolvendo o plano municipal do Poder Legislativo, existe uma certa tendência relacionada ao espectro político na formação bancadas mais “coletivas” e “solos”.
“Quando você pensa nesse segmento que se autointitula mais à esquerda, em geral você verifica uma atuação mais coletiva. É claro que tem diferenças entre PT e PSOL, por exemplo, até porque o PT é um partido mais estabilizado, maior. Agora quando estamos pensando nesses partidos mais à direita, há coisas mais solo, embora não seja possível bater o martelo”, afirma.