“A Nossos Amigos”: diretor explica como misturou documentário e ficção em longa
Produção foi exibida durante a 48ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo; CNN conversou com Adrián Orr, realizador espanhol
A dureza dos tempos de colégio, a indecisão sobre o futuro e os dramas dos primeiros romances são os pontos de partida de “A Nossos Amigos“, filme do diretor espanhol Adrián Orr. A produção estreou no Brasil durante a 48ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Por tratar-se de um tema universal, o diretor decidiu unir a ficção ao gênero que melhor reflete nossa identidade e a experiência da vida: o documentário. Em entrevista à CNN, ele explorou suas escolhas estéticas para a produção e como desenvolveu a história nos moldes de “Boyhood“, filme que acompanha o crescimento de um jovem gravado ao longo de uma década.
A produção retrata Sara (Sara Toledo), uma jovem de um bairro operário em Madri, que passa o tempo com seu melhor amigo, Pedro (Pedro Izquierdo). Enquanto se prepara para os exames da universidade, ela faz novas amizades no teatro e se apaixona por Paula.
“Queria retratar uma versão mais real da adolescência, com dilemas do dia a dia. Muitas vezes vemos filmes com jovens de 20 e poucos anos, cheios de dramas complexos, mas nem sempre é assim”, explicou Orr à CNN. “Quando comecei a filmar, não tinha nada escrito. Fui improvisando para definir, junto com os outros atores, quais experiências e temas abordaríamos.”
Ficção ou documentário?
Outro aspecto improvisado foi a decisão de Orr e sua equipe de acompanhar a jovem Sara Toledo ao longo de quatro anos, registrando seu crescimento e transformação. “Pude observar de perto o desenvolvimento de Sara, que começou as filmagens aos 17 anos e as concluiu aos 21. A evolução de seu vocabulário, suas expressões e muito mais foram incorporados à personagem do filme”, comentou o diretor.
Ao longo do filme, a produção explora também a sexualidade de Sara, que, assim como na vida pessoal, começa a demonstrar interesse por pessoas do mesmo sexo. O diretor destaca que essa mistura entre documentário e ficção é uma marca de seu trabalho.
“O passar dos anos é um dos temas que mais me interessam, porque o cinema é uma das poucas artes, se não a única, capaz de registrar e contar o tempo“, explicou ele. “Para mim, o desenvolvimento dos personagens, ver tudo se encaixar na tela e transparecer que eles são pessoas reais, acompanhar essa transformação genuína é o mais interessante de se registrar.”
“A Nossos Amigos” fez sua estreia na 48ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e também foi exibido na Semana Internacional de Cine de Valladolid, na Espanha.
Segundo Adrian Orr, lançar “A Nossos Amigos” em festivais desse porte é a estratégia ideal, pois são nesses eventos que o cinema independente tem mais chances de florescer. “Eu não conseguiria lançar A Nossos Amigos agora na Espanha, pois teria que competir com grandes lançamentos que disputam vagas no Goya [o Oscar espanhol]. Agora, a missão é exibir em mais festivais e buscar uma distribuição mais ampla”, concluiu o diretor.
Veja um trecho de “A Nossos Amigos”:
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