“Além da Lenda”: animação quer mostrar folclore nacional para a geração atual
Com muita cor, música e selfies, primeira animação produzida em Pernambuco foge dos "conteúdos educacionais" e apresenta uma abordagem bem diferente do saci e da mula sem cabeça
Agora, o Saci faz hangloose, o Boto usa camisas estampadas e o vilão da vez é o Halloween. Foi buscando realizar um projeto sobre mitos nacionais menos sisudo e sombrio, que o “Além da Lenda” surgiu, primeiro como série de TV, em 2018, depois adaptado para as telonas.
“Costumo dizer que minha geração nasceu em um limbo do nosso folclore, com projetos ótimos, mas que eram tratados apenas como conteúdo educacional”, diz Ulisses Brandão, produtor executivo da animação. “Queríamos algo mais engraçado, que quebrasse um pouco das regras, que não fosse nada formal”.
Com uma linguagem atual, a série “Além da Lenda” foca cada episódio em um personagem do folclore brasileiro. Alguns mais famosos como o Negrinho do Pastoreio e a Mula sem cabeça, outros menos como Chibamba e Cabra Cabriola.
Uma abordagem mais divertida da série com o nosso folclore, porém, não significa sumir com o aspecto “terror” completamente; há alguns sustos para o espectador e, principalmente, muita ação e dinamicidade.
“A gente quis traduzir essa mitologia para uma nova geração”, diz Ulisses. “Essa geração que já nasceu no Mundo Marvel, DC, e que não tem acesso dessa mesma forma ao conteúdo nacional.”
Mas ao trazer a animação de 13 episódios para o cinema, o desafio foi outro.
A turma de personagens permanece a mesma, apenas por uma carismática adição: o Saci. Ele é o ponto central da história do filme já que, no dia do seu aniversário, 31 de outubro, um livro sagrado que reúne todas as lendas do folclore brasileiro acaba perdido.
Depois de uma confusão envolvendo os personagens da nossa mitologia e de um trio-símbolo do Dia das Bruxas, o livro acaba nas mãos de Lucas, um fã de super-heróis, quadrinhos e games, agora responsável por proteger o folclore do Brasil.
“Segurar a atenção de uma criança por sete minutos é mais fácil do que uma hora e vinte”, diz Marcos França, diretor do filme “Mais difícil ainda é prender a atenção do adulto que está acompanhando a criança”.
Para as 40 pessoas envolvidas em “Além da Lenda”, foi importante aplicar o conceito da “família” para o longa, com piadas e debates que mostrassem uma camada mais adulta da produção. Um Boto xavecando a Cuca e um refrigerante de guaraná na mesa do aniversário do Saci estão na lista.
Uma surpresa para a geração mais velha que conhece as lendas nacionais de uma forma um tanto fria, sem tanto senso de humor.
E uma surpresa ainda maior para quem nasceu no Nordeste do Brasil, “Além da Lenda” é a primeira animação pernambucana a ser lançada nos cinemas. Um motivo de orgulho, mas que, segundo os criadores da série, vem com uma grande responsabilidade.
“É uma honra para nós. Pernambuco é muito conhecido pelo cinema live-action adulto, mas agora abrimos as portas para animação, também”, diz Marcos França.
Ainda segundo eles, não houve margem para errar. Apesar do filme ter sido finalizado um mês antes da pandemia da Covid-19 chegar no Brasil, em fevereiro de 2020, o orçamento foi vigiado de perto.
“Estamos falando de um filme brasileiro, independente, e, ainda por cima, de animação, o erro custa bastante nesses casos”, diz Ulisses Brandão.
Com uma continuação já planejada, os criadores da série tornaram o “Além da Lenda” um projeto multiplataforma, com filme, podcast e um game em fase de finalização.
“A ideia é captar a audiência jovem de todas as formas possíveis e trazer o nosso tino pernambucano de contação de histórias para o Brasil todo”, finaliza.