Rubem Fonseca, autor de ‘Feliz Ano-Novo’ e ‘O Cobrador’, morre aos 94 anos
Fonseca foi agraciado várias vezes com o Prêmio Jabuti e, em 2003, recebeu o prêmio Camões, o mais importante da literatura em língua portuguesa

Conhecido por sua reclusão, o autor marcou época na literatura brasileira principalmente no gênero policial, com uma escrita marcada por uma crítica social aguda e personagens explicitamente violentos. Suas obras misturavam elementos da realidade, personagens históricos e a vivência do mundo policial com personagens marginalizados. Entre suas obras mais famosas estão Bufo e Spallanzani, O Caso Morel, Romance Negro, A Grande Arte e Lúcia McCartney.
Fonseca foi agraciado várias vezes com o Prêmio Jabuti e, em 2003, recebeu o prêmio Camões, o mais importante da literatura em língua portuguesa, pelo conjunto da obra. Ao longo da carreira, seus textos foram adaptados para o cinema e a televisão.
Mineiro de Juiz de Fora, Rubem Fonseca nasceu no dia 11 de maio de 1925. Na infância, passou a morar no Rio de Janeiro. Formou-se na escola de Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade do Brasil, atual UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Entre 1952 e 1958, foi comissário de polícia. Pela corporação, estudou Administração e Comunicação nas cidades americanas de Boston e Nova York.
De volta ao Brasil, Fonseca passou a se dedicar exclusivamente à literatura. Em 1967, também escreveu críticas cinematográficas para a revista Veja.
O escritor também foi um dos diretores do Ipês (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais), organização montada por empresários cariocas e paulistas no começo da década de 1960 e que era abertamente contra o governo do presidente João Goulart -- derrubado do cargo no golpe militar de 1964.
Em artigo que escreveu para a Folha de S.Paulo em 1994, Fonseca disse que, com o golpe, deixou o Ipes.
"Eu afastei-me completamente do Ipes e nunca me aproximei do novo governo, nem daqueles que o sucederam. Não era, como homem de empresa, nem sou agora, como escritor, favorável à ruptura da ordem constitucional em nosso país através de revoluções ou golpes de estado, militares ou civis", disse.
No mesmo artigo, o autor lembra que Feliz Ano-Novo foi censurado pela ditadura militar (1964-1985) em 1976, acusado de "atentar contra a moral e os bons costumes". A versão completa da obra só foi lançada em 1989.
"Fui condenado em primeira instância. Só consegui ganhar a causa nos tribunais superiores, depois de 13 desgastantes anos de uma prolongada batalha jurídica, graças ao extraordinário empenho e competência dos meus advogados", disse Fonseca.