Rússia tem 10.000 novos casos de COVID-19, e problemas de Putin se acumulam
Em março, o presidente russo irradiava confiança sobre a resposta de seu governo a uma crescente crise global, tranquilizando seus cidadãos

A Rússia registrou 10.633 novos casos de coronavírus no domingo, seu quarto aumento recorde em um único dia consecutivo, o que está se tornando uma grande dor de cabeça para o presidente Vladimir Putin.
O número total de casos no país é agora 134.687, o sétimo número mais alto do mundo, em uma dramática reviravolta em relação à situação em março.
Um total de 1.280 mortes já foi registrado, informou o instituto responsável pelo controle do coronavírus do país em um comunicado, acrescentando que cerca de 50% dos casos eram assintomáticos. Moscou, a cidade mais atingida, responde por mais da metade do total de casos.
Na semana passada, a Rússia estendeu seu período de isolamento até 11 de maio. "O aumento diário de casos se estabilizou relativamente, mas isso não deve nos acalmar, a situação ainda é muito séria", afirmou Putin. "O pico não está atrás de nós, estamos prestes a enfrentar uma fase nova e cansativa da pandemia ... a ameaça mortal do vírus permanece".
As dificuldades aumentam entre os profissionais de saúde do país depois que duas dúzias de hospitais tiveram que fechar por quarentena, com muitos médicos ficando doentes. A mídia independente russa e as organizações não-governamentais relataram pedidos anônimos de trabalhadores médicos indignados, que disseram ter sido ordenados às linhas de frente sem proteção adequada, e que o arrastar burocrático estava custando vidas.
Na quinta-feira, quando o número de casos passou de 100.000, o primeiro-ministro russo Mikhail Mishustin apareceu na televisão estatal informando Putin por videoconferência que ele havia testado positivo para o vírus. Isso aconteceu um dia depois de Mishustin dizer que era "impossível dar uma data exata" para suspender as restrições da COVID-19 na Rússia, incluindo a reabertura das fronteiras do país.
No sábado, uma cidade chinesa na fronteira com a Rússia emitiu um aviso de prevenção de epidemias de emergência, fechando todos os restaurantes "até segunda ordem", de acordo com a TV estatal da China.
A mudança da cidade de Harbin, na província de Heilongjiang, ocorreu quando outras províncias chinesas começaram a suspender as medidas de bloqueio. Heilongjiang registrou um aumento nos casos de coronavírus transmitidos localmente.
As autoridades de saúde chinesas rastrearam recentemente dezenas de casos em um único voo que chegou a Xangai a partir de Moscou em 10 de abril. Uma onda de casos na cidade de Suifenhe, na fronteira com o Extremo Oriente da Rússia, foi atribuída em grande parte a cidadãos chineses que retornavam de Rússia.
O Ministério da Defesa da Rússia relatou um surto entre seu pessoal, cadetes e funcionários civis. Surgiram relatos de casos em academias militares de todo o país, inclusive entre as tropas que participaram dos ensaios de Moscou para o desfile do dia da vitória em 9 de maio.
Em março, Putin irradiava confiança sobre a resposta de seu governo a uma crescente crise global, tranquilizando seus cidadãos de que a situação estava "sob controle" graças a medidas de intervenção precoce. Em 1º de abril, o presidente russo desempenhou o papel de socorrista internacional, despachando um carregamento de suprimentos médicos para o aeroporto John F. Kennedy, em Nova York.
Mas em 13 de abril, o clima havia mudado. "Temos muitos problemas", disse Putin em uma videoconferência. "Não há nada para se vangloriar, e não devemos baixar a guarda, porque, em geral, como você e seus especialistas dizem, ainda não passamos o pico da epidemia".
Em um ensaio recente, Tatiana Stanovaya, do Carnegie Moscow Center, disse que a pandemia havia sublinhado o isolamento de Putin dos russos comuns, pois ele falhou em planejar um plano de ação adequado ou demonstrar empatia suficiente, entregando a tarefa de impor restrições mais estritas a Sergey Sobyanin, o prefeito de Moscou.