Atirador de Buffalo visitou área no início de março, diz polícia
Em manifesto, Payton Gendron diz que escolheu região devido à alta porcentagem de negros na comunidade
O homem branco de 18 anos acusado de matar 10 pessoas em um tiroteio racista no último sábado (14) em um supermercado em Buffalo (EUA) visitou a área no início de março, disse o comissário de polícia Joseph Gramaglia nesta segunda-feira (16).
Autoridades disseram anteriormente que o suspeito, que é de Conklin, a cerca de 320 quilômetros do local, chegou a Buffalo na sexta-feira (13) pela primeira vez para explorar a loja da rede Tops em um bairro predominantemente negro.
No entanto, Gramaglia atualizou essa linha do tempo ao descrever a investigação sobre o extensa histórico do suspeito.
“Encontramos algumas coisas que mostram que ele esteve aqui no início de março e, novamente, sabemos que ele esteve aqui na sexta-feira, basicamente fazendo um reconhecimento na área”. Gramaglia disse à CNN. “Ele esteve na loja, tanto na sexta como no sábado”.
Os investigadores estão analisano um manifesto de 180 páginas atribuído ao atirador que expõe em detalhes seus motivos e planos para o ataque.
O massacre segue outros tiroteios em massa nos últimos anos, nos quais as autoridades dizem que um suspeito de supremacia branca foi motivado por ódio racial, como ocorreu no Texas, na Carolina do Sul e até Noruega e Nova Zelândia.
O suspeito, Payton Gendron, se declarou inocente no sábado à noite da acusação de assassinato em primeiro grau. Ele está sob custódia sem fiança e sob vigilância de suicídio, informaram as autoridades.
Gendron usou equipamentos táticos para proteção e transmitiu ao vivo o ataque na plataforma Twitch, disseram as autoridades. A empresa disse que derrubou o vídeo em poucos minutos, mas as redes sociais lutaram para impedir sua disseminação.
Dentro e fora da loja, o atirador usou um fuzil para matar dez pessoas e ferir mais três. Onze vítimas eram negras , disseram autoridades, e o ataque está sendo investigado como crime de ódio.
Após o tiroteio, Gendron saiu do mercado e se entregou à polícia. A polícia disse na segunda-feira que ele tinha planos de matar mais negros se a polícia não tivesse chegado.
O suspeito tinha outros “locais-alvo” na rua do supermercado, de acordo com o xerife do condado, John Garcia. As autoridades encontraram outro rifle e uma espingarda em seu veículo, disse o xerife à CNN.
“Ele não terminaria até matar o maior número de negros possível”, disse Garcia, que creditou a rápida chegada de dois policiais para impedir outros ataques.
As vítimas tinham 20 e 86 anos, disse a polícia, entre eles o ex-policial que trbalhava como segurança do local e tentou deter o atirador. O prefeito de Buffalo, Byron Brown, elogiou na segunda-feira o heroísmo do guarda, bem como a rápida resposta da polícia.
“Muito mais pessoas provavelmente teriam sido mortas e feridas se a polícia de Buffalo não chegasse ao local tão rapidamente”, disse Brown. “Eles conseguiram deter o atirador, conseguiram prendê-lo sem incidentes e proteger a vizinhança”. O suspeito tem uma audiência no tribunal nesta quinta-feira (19), informou o promotor do condado.
Manifesto de 180 páginas
Desde o tiroteio, as autoridades analisaram o que dizem ser a intenção racista do suspeito e sua história. “Continuamos a investigar este caso como um crime de ódio, um crime perpetrado por um extremista violento e racialmente motivado”, disse Stephen Belongia, agente especial do FBI em Buffalo, no domingo em uma entrevista coletiva.
Espera-se que os promotores federais apresentem novas acusações contra o suspeito nos próximos dias, disseram autoridades policiais à CNN na segunda-feira.
O documento de 180 páginas atribuído a Gendron e postado online antes do tiroteio expõe os motivos do suposto atirador e mostra o planejamento meticuloso que levou ao massacre.
A CNN obteve o documento de forma independente logo após o tiroteio em massa – antes que as autoridades divulgassem o nome do suspeito – e fontes policiais disseram à CNN que sua descrição de armas corresponde às armas que o suspeito usou.
No o manifesto, o suspeito detalhou como ele havia sido radicalizado ao ler o fórum de mensagens online 4chan e se descreveu como um supremacista branco, fascista e antissemita. Ele escreveu sobre a teoria da “grande substituição”, ou a falsa crença de que os americanos brancos estão sendo “substituídos” por pessoas de outras raças.
Antes uma ideia pouco conhecida, a teoria da recentemente se tornou um ponto de discussão para o apresentador da Fox News, Tucker Carlson, bem como para outros conservadores famosos.
O suspeito também escreveu que foi inspirado pelo assassinato em massa de 2019 em duas mesquitas em Christchurch, na Nova Zelândia, no qual o atirador escreveu um longo documento e transmitiu ao vivo o ataque.
O atirador de Buffalo escreveu que começou a planejar seriamente o ataque em janeiro. O autor do documento também escreve que mirou este bairro de Buffalo porque está em um CEP que “tem a maior porcentagem de negros perto o suficiente de onde eu moro”.
De fato, o CEP que inclui a loja é 78% negro, a maior porcentagem de população negra de qualquer CEP no norte de Nova York, de acordo com o Censo de 2020.
O documento também afirma que o suspeito comprou a arma principal que usava, uma Bushmaster XM-15, de uma loja de armas antes de “modificá-la ilegalmente”.
Suspeito fez ameaça ‘sinistra’ no ano passado
Há um ano, o suspeito apareceu no radar da polícia como estudante da Susquehanna Valley High School, disseram autoridades.
Ele fez uma referência “sinistra” a assassinatos por meio de uma plataforma virtual de aprendizado em junho, disse o Distrito Escolar Central de Susquehanna Valley na segunda-feira.
Embora a ameaça não fosse específica e não envolvesse outros alunos, o instrutor imediatamente informou um administrador que encaminhou o assunto para a Polícia do Estado de Nova York, disse um porta-voz à CNN, acrescentando que a lei limita o que mais funcionários da escola podem dizer.
A preocupação surgiu depois que o suspeito entregou um projeto do ensino médio sobre assassinatos e suicídios, levando a uma investigação da polícia estadual, disse Garcia, o xerife.
“A polícia estadual chegou à casa dele naquele momento no ano passado”, disse ele. “Ele ficou em uma instalação – não tenho certeza se era um hospital ou um centro de saúde mental – por um dia e meio”.
Não foi o tipo de compromisso involuntário que teria impedido o suspeito de comprar uma arma , disse o porta-voz da polícia estadual Beau Duffy.