Dia de Nelson Mandela: Relembre trajetória do líder sul-africano
Ex-presidente foi forte defensor dos direitos humanos e uma figura de destaque na luta pela igualdade racial durante o Apartheid

Há 107 anos, no dia 18 de julho de 1918, nascia Nelson Mandela, defensor dos direitos humanos e uma figura de destaque na luta pela igualdade na África do Sul.
Desde 2009, este dia é reconhecido pela ONU, além do aniversário do ex-presidente sul-africano, como o Dia Internacional do ativista que enfrentou o Apartheid, um regime de segregação brutal que dividiu o país durante anos.
Devido a sua luta contra esse sistema opressor que assolou a África do Sul entre 1948 e o início dos anos 90, Mandela foi agraciado com o Nobel da Paz em 1993. Por conta desse feito, o líder sul-africano passou a ser descrito pela Organização das Nações Unidas como alguém que "dedicou sua vida a serviço da humanidade".
Relembre a história e o legado de Nelson Mandela na África do Sul:
Vida antes do ativismo
Rolihlahla Mandela nasceu e cresceu na vila de Mvezo, na África do Sul. O nome "Nelson", como ficou conhecido futuramente, foi adicionado durante a escola primária por uma professora, na aldeia de Qunu. Naquela época, era um costume dar às crianças na escola um "nome cristão".
Em 1939, Mandela iniciou um curso de bacharelado em Artes na Universidade de Fort Hare, na província de Cabo Oriental. Mas não chegou a encerrar a graduação, pois foi expulso por participar de um protesto estudantil.
Após sofrer ameaças de um casamento arranjado caso não terminasse os estudos, Mandela fugiu para a cidade de Joanesburgo em 1941. Lá, trabalhou como segurança de minas e completou o bacharelado na Universidade da África do Sul, voltando para Fort Hare para sua graduação, em 1943.
Por conta de suas experiências no mundo acadêmico e profissional, Mandela também começou a estudar Direito na Universidade de Witwatersrand.
Um diploma por conta dos dois anos que cursou, além de seu bacharelado em Artes, permitiu que exercesse a advocacia. Em agosto de 1952, junto do político sul-africano Oliver Tambo, Mandela fundou o escritório "Mandela & Tambo".
Apartheid e início da luta política
O Apartheid passou a existir formalmente após a Segunda Guerra Mundial na África do Sul, quando o Partido Nacional, liderado por descendentes de colonos europeus, chegou ao poder no país.
A partir de 1948, os legisladores sul-africanos aprovaram uma série de leis cada vez mais opressivas, que regulavam até atividades cotidianas.
Havia a proibição de casamento entre negros e brancos, divisões da população por cor, reservando os melhores equipamentos públicos para brancos, e a criação de um sistema de educação separado e inferior para negros.
Outro ponto imposto pelo regime era que negros também tinham que usar praias e banheiros públicos diferentes, além dos salários que também eram desiguais.
Nesse período, Mandela realizou diversas ações no Congresso Nacional Africano, como a Campanha Desafio, que instigava desobediência civil e resistência popular contra algumas leis consideradas injustas.
Por conta da Lei de Supressão ao Comunismo, que proibia ativistas do partido de promover a ideologia política, ele foi sentenciado a nove meses de trabalhos forçados e a dois anos de suspensão.
Acusação de traição e prisão
Em 1956, Nelson Mandela foi acusado de traição. O julgamento só terminou em 1961, com ele e seus outros colegas sendo absolvidos.
Mas, em 1960, um ano antes desse julgamento, o governo havia declarado estado de emergência, banindo o Congresso no processo. Cerca de 18 mil manifestantes foram presos durante o período, entre eles, Mandela.
Após ser libertado, foi criado o movimento armado da ANC, o Umkhonto we Sizwe (Lança da Nação, em tradução livre), com Mandela sendo escolhido como líder. Em dezembro daquele ano, o grupo começou ataques com uma série de explosões.
Já em janeiro 1962, Mandela secretamente da África do Sul com um passaporte etíope, viajando para outros países da África e da Europa, com o objetivo de obter apoio para a luta armada, retornando em julho do mesmo ano.
Mandela foi preso meses depois, em agosto. Ele foi acusado de deixar o país sem permissão e incitar greve e insurreição, condenado a cinco anos de prisão.
Em 1963, líderes da ANC foram presos, e Mandela foi acusado junto a eles por sabotagem. A apuração das autoridades ficou conhecida como "Julgamento de Rivonia", no qual ele corria risco de pena de morte.
Mas, em junho de 1964, Nelson Mandela e sete outros foram condenados à prisão perpétua. Ele percorreu três prisões: Robben Island, Pollsmoor e Victor Verster.
Durante o cárcere, em 1968 e 1969, a mãe e filho mais velho morreram, mas ele não foi autorizado a comparecer aos enterros.
Processo de Libertação e Nobel da Paz
Mais de uma década depois, em 12 de agosto de 1988, Mandela foi levado ao hospital, onde foi diagnosticado com tuberculose.
Depois de mais de três meses em dois hospitais, ele foi transferido em dezembro para uma casa na Prisão Victor Verster, perto de Paarl, onde passou seus últimos 14 meses de prisão.
Ele finalmente foi libertado em 11 de fevereiro de 1990, nove dias após a retirada do banimento do ANC e quase quatro meses após a libertação de seus camaradas restantes do Julgamento de Rivonia. Ao longo de sua prisão, ele rejeitou pelo menos três ofertas condicionais de libertação.
Em junho do mesmo, Mandela compareceu pela primeira vez à ONU, no Comitê Especial Contra o Apartheid, no Salão da Assembleia Geral, em Nova York.
Em 1991, foi eleito presidente do ANC e manteve negociações para "acabar com o governo da minoria branca".
Em 1993, Nelson Mandela ganhou o prêmio Nobel da Paz, “pelo seu trabalho pelo fim pacífico do regime do Apartheid e por lançar as bases para uma nova África do Sul democrática”, de acordo com a descrição do site da Fundação Nelson Mandela.
Ele dividiu o prêmio com "o homem que o libertou, o presidente Frederik Willem de Klerk, porque eles concordaram com uma transição pacífica para o governo da maioria".

Presidência e legado para gerações futuras
Em 1994, foram realizadas as primeiras eleições "multirraciais" na África do Sul. Mandela pôde votar pela primeira vez na vida.
O movimento armado da ANC ganhou com grande maioria e, em 10 de maio, Nelson Mandela assumiu como o primeiro presidente democraticamente eleito do país. Porém, ele afirmou que não buscaria reeleição e, após seu único mandato, de 1994 até 1999, ele deixou o cargo.
Antes de falecer, em 5 de dezembro de 2013, o ex-presidente deixou um legado de grande exemplo e importância através de organizações não-governamentais e da ONU.
O ex-presidente sul-africano fundou algumas organizações sociais. Em 1995, o Fundo para a Infância Nelson Mandela, que "se esforça para mudar a forma como a sociedade trata suas crianças e jovens".
A Fundação Nelson Mandela, por sua vez, foi criada logo depois que ele deixou a presidência, em 1999. Ela é focada no diálogo e trajetória do líder, tendo também o Centro de Memória dedicado a ele, inaugurado em novembro de 2013.
Há também a Fundação Mandela Rhodes, que fornece bolsas de pós-graduação para estudantes em um Programa de Desenvolvimento de Liderança na África do Sul. Ela foi fundada em 2003.
Para a celebração de 2022, o secretário-geral da ONU, António Guterres, gravou um vídeo homenageando Mandela, dizendo que ele é um mentor para gerações, sendo, ainda, uma bússola moral e referência para todos.
"Hoje, o mundo honra um gigante do nosso tempo. Um líder de incomparável coragem e conquistas imponentes e um homem de dignidade silenciosa e profunda humanidade", destacou Guterres.
O secretário-geral também pediu para que "hoje e todos os dias, honremos o legado de Nelson Mandela agindo. Falando contra o ódio e defendendo os direitos humanos; reforçando nossa humanidade compartilhada, rica em diversidade, igual em dignidade e unida em solidariedade".