Governo Milei ameaça processar sindicalistas e abre canal de denúncias contra greve geral

Administração federal enfrenta pressão contra megadecreto assinado pelo presidente

Luciana Taddeo, da CNN, em Buenos Aires
Presidente da Argentina Javier Milei durante comício em Buenos Aires  • Agustin Marcarian/Reuters (07.ago.23)
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O governo de Javier Milei deu início a uma campanha para desencorajar a participação na greve geral convocada pela principal central sindical do país, para a próxima quarta-feira (24).

O protesto foi convocado pela Confederação Geral do Trabalho (CGT) contra o decreto de Milei e o mega-projeto de lei enviado ao Congresso, que alteram as leis trabalhistas e abordam a criminalização de manifestações.

O ministro argentino da Justiça, Mariano Cúneo Libarona, afirmou que pretende iniciar ações judiciais se a greve não tiver fundamentos legais. “Chega de governarem nosso país com greves”, pontuou em entrevista à rádio Neura.

Segundo Libarona, a secretaria do Trabalho do país poderia declarar a greve ilegal e seus organizadores serem processados por “danos e prejuízos”.

“Não vamos viver sob extorsão. Diante da extorsão, vamos à Justiça”, garantiu o ministro, destacando que, assim, protegerá “a sociedade, a criança que quer ir para a escola, o comerciante que quer vender”.

Já o ministério da Segurança da Argentina, liderado pela ex-candidata presidencial Patricia Bullrich, disse, em postagem em uma rede social, ter criado um número de telefone para receber denúncias de empresários, comerciantes e trabalhadores que se sintam coagidos a participar da greve.

“Sabendo da existência de extorsões, ameaças e pressões a trabalhadores para que no dia 24 de janeiro se somem à greve contra sua vontade, pelo perigo de perder seu trabalho ou ajuda social que recebem, habilitamos a linha 134 para denúncias”, anunciou o ministério.

Segundo a pasta, os operadores da linha “foram instruídos a compilar a maior informação possível e para dar segurança a cada empresário, comerciante, trabalhador independente, transportador, empregado em relação de dependência ou beneficiário de algum plano se veja obrigado a parar”.

“É fundamental que sejam encorajados a ligar. Desta maneira, estarão defendendo seu direito a trabalhar e viver em liberdade”, ressalta a publicação do ministério.

Central sindical nega pressão

Héctor Daer, líder da CGT, respondeu que a central sindical “não pressiona ninguém” e que as pessoas “vão chegar por sua conta” à manifestação.

Além da greve geral, os sindicalistas organizam uma grande mobilização no Congresso para apoiar legisladores que votarão contra o mega-projeto de lei de Milei.

A linha 134 também foi aberta antes da manifestação de organizações de esquerda em dezembro, 10 dias após a posse de Milei. Na ocasião, o governo pedia que a população denunciasse caso estivesse sendo ameaçada de perder auxílios sociais caso não participasse do protesto.

A administração federal, por outro lado, ameaçou a retirada de auxílios sociais de quem bloqueasse ruas durante as manifestações. As duas medidas conseguiram esvaziar o protesto.