Marina Silva diz que texto final em discussão na COP é insuficiente e pede mais ambição climática
Ministra do Meio Ambiente do Brasil afirma que linguagem não está apropriada, porque eliminou menções a redução da produção e consumo de combustíveis fósseis
A ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, criticou o texto final que está em discussão na COP28, afirmando que ele é insuficiente e pouco claro com relação à necessidade de eliminação do uso de combustíveis fósseis.
“Em relação a combustíveis fósseis, a linguagem não está apropriada e temos muitas insuficiências. Uma das insuficiências é não ter estabelecido a questão dos esforços para eliminação, em relação a combustível fóssil. Não é só a questão de emissão”, destacou Marina Silva.
“É necessário também uma melhor clareza [das responsabilidades e diferenciações] entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento”, complementou.
O texto do potencial acordo climático na COP28 propôs várias opções para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, mas não cita a eliminação gradual ou total dos combustíveis fósseis, algo que muitos países e boa parte da sociedade civil exigiam.
Em vez disso, o projeto de acordo lista oito opções que os países “poderiam” usar para reduzir as emissões, inclusive: “reduzir o consumo e a produção de combustíveis fósseis, de maneira justa, ordenada e equitativa, de modo a atingir o zero líquido até, antes ou por volta de 2050”.
A ministra pediu mais ambição aos negociadores de todos os países para se avançar mais rapidamente na luta contra as mudanças climáticas.
“O Brasil quer mais ambição e um processo estruturado para o mapa do caminho em relação à eliminação de combustíveis fósseis. Essa ideia de eliminação desapareceu em termos de linguagem [do texto em discussão]”, ressaltou Marina.
O assunto é polêmico, porque a ciência demonstrou que carvão mineral, gás e petróleo são os grandes responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa, que levam ao aquecimento global.
Mas muitos países se opõem à eliminação do uso desses combustíveis, especialmente os grandes produtores de petróleo, como a Arábia Saudita.
Várias nações defenderam que a COP28 decidisse que os governos precisam abandonar o uso dos combustíveis fósseis, ou pelo menos diminuir o seu uso, imediatamente.
O Brasil, por exemplo, defende que a produção e consumo desses combustíveis comece a diminuir em breve, com os países ricos sendo os primeiros a adotar tais políticas.
Isso permitiria que os países em desenvolvimento, como o próprio Brasil, pudessem continuar explorando e usando petróleo por muito mais tempo do que as nações ricas –que são as que historicamente mais emitiram gases de efeito estufa e também são as que têm mais recursos financeiros e tecnológicos para a transição.
Alguns países, como as pequenas ilhas do Caribe do Pacífico, que estão entre as nações mais ameaçadas pelas mudanças climáticas por causa da elevação dos níveis dos oceanos, advertiram que não vão permitir a aprovação do texto da forma como está.
Outros, pelo contrário, querem eliminar qualquer tipo de menção a combustíveis fósseis.
As negociações devem continuar madrugada adentro em Dubai, até que se chegue a um acordo final.
Marina Silva disse que o “Brasil vai trabalhar até o último minuto para que as responsabilidades sejam distribuídas”.
Ela destacou ainda que é preciso agir nesta COP para se evitar “uma pororoca de problemas pela frente”, em uma menção à possibilidade de que a discussão sobre a necessidade de eliminação do uso de combustíveis fósseis se arraste até a COP30, em 2025, em Belém do Pará.