Médicos de Gaza juntam bebês em incubadora por falta de combustível

Autoridades alertaram para luta de "vida ou morte" e sobre risco de interrupção de serviços básicos

Kareem Khadder, Ibrahim Dahman e Lucas Lilieholm, da CNN
CNN encontrou quatro bebês em uma incubadora em um hospital na Faixa de Gaza
CNN encontrou quatro bebês em uma incubadora em um hospital na Faixa de Gaza  • CNN
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Médicos da Faixa de Gaza afirmam que precisaram juntar vários bebês em uma incubadora, enquanto hospitais alertam que a escassez de combustível está forçando a interrupção de serviços vitais, colocando a vida dos pacientes em risco.

A ONU disse que a crise de combustível está em um ponto crítico, com os poucos suprimentos disponíveis e "praticamente sem estoques adicionais acessíveis".

A CNN contatou a Cogat, a agência israelense responsável pela coordenação das entregas de ajuda humanitária a Gaza, sobre a falta de combustível e aguarda retorno.

O diretor do Hospital Al-Ahli, ao sul da Cidade de Gaza, publicou uma foto nas redes sociais nesta quarta-feira (9), mostrando vários recém-nascidos compartilhando uma única incubadora, tirada em outra unidade, a Al-Helou.

"Essa trágica superlotação não é apenas uma questão de falta de equipamentos — é uma consequência direta da guerra implacável em Gaza e do bloqueio sufocante que paralisou todo o sistema de saúde", escreveu o doutor Fadel Naim.

“O cerco transformou o atendimento de rotina a bebês prematuros em uma luta de vida ou morte. Nenhuma criança deveria nascer em um mundo onde bombas e bloqueios decidem se ela vive ou morre", pontuou.

O diretor do Hospital Al-Shifa, no norte de Gaza, disse que a escassez de suprimentos está forçando o fechamento das seções de diálise renal para que pudessem se concentrar em terapia intensiva e salas de cirurgia.

“Se o combustível não for disponibilizado nas próximas horas para o Hospital Al-Shifa, o hospital ficará fora de serviço nas próximas três horas, o que levará a um alto número de mortes”, advertiu o doutor Mohammad Abu Silmiya à CNN.

Ele destacou que centenas de pacientes estão em risco, incluindo 22 bebês em incubadoras.

Imagens de dentro do hospital mostraram médicos usando lanternas enquanto tratavam pacientes.

Outra unidade, o Complexo Médico Nasser, informou que tinha combustível suficiente para 24 horas e estava se concentrando em departamentos vitais, como maternidade e terapia intensiva.

“Os hospitais estão racionando. As ambulâncias estão paralisadas. Os sistemas de água estão à beira do colapso", afirmou o Ocha (Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários).

"As mortes que isso provavelmente causará poderão aumentar drasticamente em breve, a menos que as autoridades israelenses autorizem a entrada de novo combustível – com urgência, regularidade e em quantidades suficientes”, adicionou.

Falta de peças também cria risco em Gaza

Além da escassez de combustível, a dificuldade em encontrar peças de reposição para os geradores que abastecem os hospitais de Gaza está forçando mais unidades de saúde a paralisarem suas atividades.

"Não apenas o combustível é um grande problema para o funcionamento dos geradores dos hospitais, nosso principal problema agora é encontrar peças de reposição para os geradores antigos", afirmou o Ministério da Saúde de Gaza à CNN nesta quarta-feira.

O Hospital dos Mártires de Al-Aqsa, no centro de Gaza, emitiu um comunicado urgente informando que o gerador principal da instalação havia quebrado devido à falta de peças de reposição, forçando-o a depender de uma unidade de reserva menor.

"O combustível acabará nas próximas horas e as vidas de centenas de pacientes estão em risco dentro das enfermarias", alertou o comunicado.

"O fechamento do hospital ameaça interromper os serviços de saúde de meio milhão de pessoas na Província Central", adicionou.

Serviços básicos ameaçados em Gaza sem combustível

Além dos hospitais, o combustível é essencial para manter os serviços básicos em funcionamento em Gaza.

O território depende fortemente de importações para cozinhar, colocar em funcionamento usinas de dessalinização e tratamento de águas residuais, e para abastecer os veículos usados ​​em operações de resgate.

Israel restringiu a entrada de combustível durante o conflito e alegou que o Hamas poderia usá-lo em armas.

O grupo humanitário MSF (Médicos Sem Fronteiras) alertou sobre o que chamou de "uma crise humanitária sem precedentes" na Faixa de Gaza, em um comunicado divulgado na terça-feira, e pediu um cessar-fogo e a entrada de uma quantidade muito maior de ajuda humanitária.

"Nossas equipes trabalharam para tratar os feridos e abastecer hospitais sobrecarregados, enquanto ataques indiscriminados e o estado de sítio ameaçam milhões de homens, mulheres e crianças", disse o MSF.

"Instamos as autoridades israelenses e os governos cúmplices que permitem essas atrocidades, incluindo o governo do Reino Unido, a encerrarem o cerco agora e tomarem medidas para impedir a expulsão dos palestinos de Gaza", concluiu.