Ucrânia quer que Lula use cúpula dos Brics para pressionar Rússia pelo fim da guerra
Enviado especial do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky para a América Latina diz à CNN que Brasil deveria aproveitar sua amizade com Moscou para influenciar Putin
O governo da Ucrânia quer que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aproveite a cúpula dos Brics para pressionar a Rússia para acabar com a guerra no leste europeu.
A afirmação foi feita pelo embaixador Ruslan Spirin, enviado especial do presidente Volodymyr Zelensky para a América Latina, em entrevista exclusiva à CNN.
Vídeo: Os Brics e a solução diplomática para a guerra na Ucrânia
“Estamos buscando a paz, então toda a sua influência, a sua amizade e o seu relacionamento [do Brasil com a Rússia] deveriam ser usados para influenciar o cérebro do [presidente russo, Vladimir] Putin, explicando que ele não pode violar as regras internacionais e o direito internacional, que tem que retirar suas tropas do território de outro país soberano”, disse Spirin.
O embaixador, no entanto, admite que tem dúvidas se tal mensagem será, de fato, enviada ao Kremlin.
“Em primeiro lugar, respeitamos muito o que o Brasil diz a respeito do processo de paz. Isso realmente é vital. Precisamos de paz, porque todos os dias morrem civis em todo o território do nosso país”, disse ele.
“Espero que sim [que o presidente Lula envie essa mensagem a Putin], mas tenho dúvidas. Porque as últimas declarações do presidente brasileiro… Ele não falou nada parecido. Ele só está falando do restabelecimento da paz da forma como está [a guerra]”, completou o enviado de Zelensky.
Fotos: Imagens mostram a destruição da guerra entre Rússia e Ucrânia
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Veja imagens que mostram a destruição da guerra na Ucrânia após cerca de um ano e meio de conflito • 30/06/2023 REUTERS/Valentyn Ogirenko
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Vista mostra ponte Chonhar danificada após ataque de míssil ucraniano, em Kherson, Ucrânia • 22/06/2023Líder da região de Kherson Vladimir Saldo via Telegram/Handout via REUTERS
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Casas inundadas em bairro de Kherson, Ucrânia, quarta-feira, 7 de junho de 2023. • Felipe Dana/AP
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Prédio destruído em Mariupol, na Ucrânia • 14/04/2022 REUTERS/Pavel Klimov
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Área residencial inundada após o colapso da barragem de Nova Kakhovka na cidade de Hola Prystan, na região de Kherson, Ucrânia, controlada pela Rússia, em 8 de junho. • Alexander Ermochenko/Reuters
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Imagens de drone obtidas pelo The Wall Street Journal mostram soldado russo se rendendo a um drone ucraniano no campo de batalha de Bakhmut em maio. • The Wall Street Journal
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Vista aérea da cidade ucraniana de Bakhmut • Vista área da cidade ucraniana de Bakhmut em imagem de vídeo15/06/202393rd Kholodnyi Yar Brigade/Divulgação via REUTERS
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Socorristas trabalham em casa atingida por míssil, em Kramatorsk, Ucrânia • 14/06/2023Serviço de Imprensa do Serviço Estatal de Emergência da Ucrânia/Handout via REUTERS
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A cidade de Velyka Novosilka, na linha de frente, carrega as cicatrizes de um ano e meio de bombardeios. • Vasco Cotovio/CNN
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Crateras e foguetes não detonados são uma visão comum na cidade de Velyka Novosilka, que foi atacada pelas forças russas. • Vasco Cotovio/CNN
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Policial ucraniano dentro de cratera perto do edifício danificado por drone russo. • Reprodução/Reuters
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Rescaldo de um ataque de míssil russo na região de Zhytomyr • Bombeiros trabalham em área residencial após ataque de míssil russo na cidade de Zviahel, Ucrânia09/06/2023. Press service of the State Emergency Service of Ukraine in Zhytomyr region/Handout via REUTERS
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Danos à barragem de Nova Kakhovka, no sul da Ucrânia, são vistos em uma captura de tela de um vídeo de mídia social. • Telegram/@DDGeopolitics
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Vista da ponte destruída sobre o rio Donets • Lev Radin/Pacific Press/LightRocket via Getty Images
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Ataque com míssil mata criança de 2 anos e deixa 22 pessoas feridas na Ucrânia, diz governo • Ministério da Defesa da Ucrânia/Divulgação/Twitter
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Foto tirada por ucraniana após ataques com drones russos contra Kiev. Drones foram abatidos, mas destroços provocaram estragos. • Andre Luis Alves/Anadolu Agency via Getty Images
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Morador local de pé em frente a prédio residencial fortemente danificado durante o conflito Rússia-Ucrânia, no assentamento de Toshkivka, região de Luhansk, Ucrânia controlada pela Rússia • 24/03/2023REUTERS/Alexander Ermochenko
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Soldados ucranianos disparam artilharia na linha de frente de Donetsk em 24 de abril de 2023. • Muhammed Enes Yildirim/Agência Anadolu/Getty Images
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Ataque de mísseis russos atingem prédio residencial em Uman, na região central da Ucrânia • Reuters
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Vista aérea da cidade ucraniana de Bakhmut capturada via drone • 15/04/2023 Adam Tactic Group/Divulgação via REUTERS
Lula já fez diversas declarações defendendo que um grupo de países não envolvidos na guerra tomasse a iniciativa de propor negociações diplomáticas para acabar com o conflito.
O governo ucraniano, no entanto, reclama da postura diplomática do Brasil, dizendo que qualquer processo de paz só pode começar depois de a Rússia retirar todas as suas tropas do país, inclusive da península da Crimeia.
Os ucranianos querem implementar uma proposta de dez pontos do presidente Zelensky para a paz, que inclui, além da retirada imediata de todas as tropas russas de todo o território ucraniano, compensação pelos crimes de guerra e reconhecimento total da integridade da Ucrânia.
Cúpula na África do Sul
A cúpula dos Brics acontece na semana que vem, em Johanesburgo, na África do Sul, com a presença de Lula e dos chefes de governo da Índia, Narendra Modi, da China, Xi Jinping, e da África do Sul, Cyril Ramaphosa.
O presidente Putin não vai comparecer pessoalmente porque poderia ser preso pelas autoridades sul-africanas caso pisasse no país, visto que o Tribunal Penal Internacional (do qual a África do Sul é um dos países membros) emitiu um mandado de prisão contra ele por crime de guerra.
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A cúpula acontece justamente quando a guerra completa um ano e meio.
Fontes do Itamaraty ouvidas pela CNN dizem que certamente a guerra será discutida de uma forma ou de outra na cúpula, mas acreditam que este não deve ser o ponto central do encontro.
O Brasil foi o único país do grupo a condenar em votações na ONU a invasão e a violação da integridade territorial da Ucrânia. África do Sul, Índia e China se abstiveram em todas as votações.
O embaixador ucraniano diz ainda que o seu país está retomando centenas de quilômetros do território ocupado pelos russos nos últimos 18 meses.
“Cerca de 55% dos territórios anteriormente ocupados pelos russos já estão liberados. Nosso exército está numa contraofensiva e, em duas semanas, já liberamos mais de 200 quilômetros quadrados”, disse ele, pedindo também que os países aliados enviem aviões para o esforço de resistência dos ucranianos.
O embaixador afirma ainda que a guerra terá que ser resolvida tanto no campo de batalha como no cenário diplomático, mas lamenta os altos custos humanos do conflito.