William Waack

Waack: Mesmo esvaziada, reunião do Brics provoca os EUA

O Brasil presidiu a mais recente cúpula do grupo querendo não gerar manchetes negativas; mas, no que dependeu do presidente Lula, foi pior do que isso

William Waack
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Afinal, o Brics é um grupo antiamericano? Desde que a China, atropelando o Brasil, aumentou de cinco para 11 os participantes do grupo, é fácil responder a essa pergunta. O Brics é um grupo formado de acordo com os interesses da China — e não pela natureza do relacionamento deles entre si. E a China é quem desafia os Estados Unidos como líder da ordem mundial.

O resto é firula diplomática brasileira para fazer de conta que não quer chutar a canela dos Estados Unidos — leia-se Donald Trump — que já mandou dizer que vai tascar 10% extra de tarifas em cima do grupo inteiro.

Tem um cheiro de bravata isso aí. Trump vai chutar a Arábia Saudita, com quem anda em clima de romance? Ou idem à Índia? A Rússia de Putin, de quem ele gosta tanto?

O Brasil presidiu a mais recente cúpula do Brics querendo não gerar manchetes negativas. Mas, no que dependeu do presidente Lula, foi pior do que isso.

“Quem disse em que foro internacional se discutiu que o dólar seria a moeda padrão?”, perguntou o presidente brasileiro. A indagação expressa profunda ignorância de como funciona a economia internacional.

Na busca por evitar qualquer fricção nessa reunião, o Brasil ajudou a redigir um texto final que expressa bem o que é o Brics: um grupo desconexo, sem objetivo claro, onde vale sobretudo o que interessa à China.

No qual se fazem discursos sobre multilateralismo, paz e negociações — mas não se toca na violação de princípios que o Brasil diz defender mundo afora, como soberania dos povos, respeito aos direitos humanos, democracia.

Em situações como essa do Brics, o Brasil fica na lamentável posição da potência menor que não tem o cinismo nem a força dos grandões. E nem a razão e a postura moral dos oprimidos.