Com orçamento reduzido, Censo pode ser adiado novamente

Último Censo foi realizado em 2010, o que gera defasagem nos dados demográficos utilizados para definir os repasses do Fundo de Participação dos Municípios

Rachel Vargas, da CNN, em Brasília
Censo IBGE
Pesquisadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) durante pesquisa de campo  • Foto: Licia Rubinstein/Agência IBGE
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Realizado a cada dez anos, o Censo Demográfico programado para 2021 pode ser cancelado. O levantamento que deveria ter sido feito em 2020,  adiado por causa da pandemia, está ameaçado mais uma vez. O montante de R$2 bilhões previsto para a pesquisa sofreu corte de R$1,76 bilhão, cerca de 90% do total.

O valor estimado para o Censo está no parecer final do senador Márcio Bittar (MDB-AC), relator da Comissao Mista de Orçamento (CMO) no Congresso. O texto estabelece um gasto total de R$ 240 milhões para realizar o Censo, o que inviabiliza a pesquisa. O parecer ainda pode ser alterado na Comissão que deve se reunir para votar o relatório no colegiado, na quinta-feira (25). Somente após isso, o texto será analisado pelo plenário do Congresso.  

O deputado federal Felipe Carreras (PSB-PE), relator setorial de economia na CMO, apresentou um destaque ao relatório para que o colegiado reconsidere o valor previsto inicialmente (R$2bi). Para o parlamentar, a pesquisa é fundamental para analisar as mudanças provocadas pela pandemia na sociedade e mapear a população mais vulnerável, inclusive auxiliar na distribuição das vacinas.

“É o Censo mais importante do século. Vamos poder enxergar os impactos da pandemia no aspecto econômico e social. E ainda ajuda a detalhar a população em risco (idade e sexo) para campanhas de vacinação.”

O último Censo foi realizado em 2010, o que gera uma defasagem nos dados demográficos utilizados para definir os repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), por exemplo. Segundo o IBGE, cerca de R$ 251 bilhões transferidos  pela União a Estados e Municípios, em 2019, se deu graças aos dados da população levantados pelo Censo. Além disso, a pesquisa permite a identificação dos públicos-alvos de políticas públicas e programas sociais, como Bolsa Família. 

Em carta aberta, ex-presidentes do IBGE fizeram um apelo aos parlamentares para que reconsiderem o valor destinado à pesquisa. 

“Nosso último censo ocorreu em 2010, e, sem ele, o Brasil se junta ao Haiti, Afeganistão, Congo, Líbia e outros estados falidos ou em guerra que estão há mais de 11 anos sem informação estatística adequada para apoiar suas políticas econômicas e sociais”, diz a carta assinada por Simon Schwartzman e Edmar Bacha, entre outros ex-presidentes do Instituto. 

Censo a cada 10 anos

O primeiro Censo foi feito em 1872 e desde 1920 é realizado a cada dez anos, com três exceções. Em 1930 não foi realizado devido à Revolução. Em 1990 foi adiado para o ano seguinte no governo Color e, por fim, em 2020 foi adiado por causa da pandemia.