Desfiles de carnaval extra no Rio podem começar em 2023, diz presidente da Liesa
Dirigente quer apresentações com até mil componentes e reedição de sambas antológicos das agremiações do Grupo Especial
Antecipados pela CNN em abril, os planos de realização de um carnaval fora de época no Rio de Janeiro, em julho, começam a ganhar forma. A proposta é do presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), Jorge Perlingeiro, que pretende fazer com que as 12 agremiações do Grupo Especial voltem à Marquês de Sapucaí no meio do próximo ano, para uma apresentação menor e não competitiva.
A proposta é fazer com que o primeiro desfile nesse formato pocket ocorra já em 2023. As escolas seriam divididas em duas noites de apresentações, como já acontece no Grupo Especial. Levariam cerca de mil componentes cada uma. O tempo não está definido, mas seria bem menor que o mínimo de 60 e o máximo de 70 minutos da festa principal.
“É um carnaval voltado especialmente para os turistas de meio de ano, que sempre querem ver carnaval, mas não têm carnaval para ver nessa época. Queremos fazer um formato menor, não será algo com entre cinco e seis horas de apresentação, não. A proposta é fazer uma coisa mais dinâmica”, explica Perlingeiro.
O presidente da Liesa tem mantido conversas com secretariais municipais e estaduais, para debater os termos e a viabilidade da festa. Se, inicialmente, a ideia era abordar fatos históricos, como os 200 anos da Independência do Brasil, heróis nacionais ou pontos turísticos, ao menos para a primeira edição, os planos mudaram.
“Podemos dar a oportunidade de as escolas apresentarem uma outra roupagem para o mesmo enredo. Mas o que estamos querendo fazer, mesmo, é permitir que as agremiações façam pequenas reedições de enredos que levem seus sambas mais marcantes, antológicos”, explica o dirigente.
Durante o carnaval, neste ano realizado em abril, entre os feriados de Tiradentes (21) e São Jorge (23), a taxa de ocupação dos hotéis na cidade variou entre 85% e 90%, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira (ABIH-Rio). No período, não houve autorização para desfiles e cortejos de blocos de rua.
Um levantamento da Prefeitura do Rio de Janeiro, divulgado em fevereiro, estimou que a maior festa da cultura popular brasileira movimenta, no município, cerca de R$ 4 bilhões.
Carnaval regular ganha forma
Aos poucos, a edição de 2023 do maior espetáculo da Terra começa a ter seus contornos conhecidos. Dez das 12 escolas do Grupo Especial já definiram o tema que vão apresentar na Marquês de Sapucaí, durante o carnaval do Rio de Janeiro. Os desfiles do principal grupo ocorrerão em 19 e 20 de fevereiro, o que significa a retomada das tradicionais datas de domingo e segunda-feira.
A safra vem diversificada. A novidade fica por conta da Unidos da Tijuca, que fez o anúncio nesta sexta-feira (15). A escola do morro do Borel vai contar a história da Baía de Todos-os-Santos. No entanto, a agremiação só revelou o tema e ainda não anunciou o nome e a abordagem do enredo, que será assinado por Jack Vasconcelos.
As homenagens também fazem parte do cardápio. Atual campeã, que levou pela primeira vez o título para Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, a Grande Rio vai reverenciar um ícone da cultura popular: o sambista Zeca Pagodinho, com o enredo “Ô Zeca, o pagode onde é que é?”. O artista é um dos símbolos da cidade e um orgulhoso morador do distrito de Xerém.
De volta ao Grupo Especial, o Império Serrano também promete emocionar relembrando a trajetória do sambista Arlindo Cruz, um dos baluartes da agremiação, da qual é um dos principais compositores. O músico faz tratamento contra as sequelas de um Acidente Vascular Cerebral (AVC).
O enredo “Lugares de Arlindo” é inspirado em um dos principais sucessos do músico: o samba “Meu lugar” e promete revisitar ambientes e momentos importantes da trajetória de Arlindo Cruz, como as rodas de samba do Cacique de Ramos, a passagem pelo grupo Fundo de Quintal e a relação com os bairros de Madureira e Oswaldo Cruz.
No mesmo bairro, a Portela vai celebrar seu centenário com o enredo “O azul que vem do infinito”. Ainda na Zona Norte, a Imperatriz Leopoldinense, que contratou o carnavalesco Leandro Vieira, duas vezes campeão pela Mangueira, vai para a passarela do samba com “O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida”, uma visita à literatura de cordel, com ênfase em personagens na chegada de Lampião ao inferno.
A Beija-Flor de Nilópolis vai se apresentar com o enredo “Brava gente, o grito dos excluídos no bicentenário da Independência”. A Viradouro, de Niterói, contará a história de Rosa Maria Egipcíaca, apontada como a primeira afro-brasileira a escrever um livro no país, a obra “Sagrada teologia do amor divino das almas peregrinas”. A homenageada chegou ao Brasil pelo Rio, onde viveu, escravizada, e chegou a se prostituir, antes de se tornar beata.
O Salgueiro apresentará “Delírios de um paraíso vermelho”, uma reflexão sobre o certo e o errado, inspirado na obra do carnavalesco Joãosinho Trinta. Falecido em 2011, o artista plástico amealhou nove títulos do Grupo Especial, por três escolas diferentes. Três pelo Salgueiro, cinco pela Beija-Flor e um pela Viradouro.
O enredo da Mangueira será “As Áfricas que a Bahia canta”. Com a saída de Leandro Vieira, os trabalhos ficarão por conta da dupla Annik Salmon e Guilherme Estevão. De uma comunidade vizinha à verde e rosa, o Paraíso do Tuiuti fará uma homenagem à Ilha do Marajó, no Pará, com “O mogangueiro da cara preta”.
Até o momento, apenas a Unidos de Vila Isabel e Mocidade Independente de Padre Miguel ainda não divulgaram seus enredos para 2023.
Ordem dos desfiles
Domingo (19/2) – Império Serrano, Grande Rio, Mocidade, Unidos da Tijuca, Salgueiro e Mangueira.
Segunda-feira (20/2) – Paraíso do Tuiuti, Portela, Vila Isabel, Imperatriz Leopoldinense, Beija-Flor e Viradouro.