'Precipitado', avaliam pesquisadores sobre anúncio do Réveillon no Rio

Avanço da variante Delta e baixa cobertura vacinal são fatores de risco

Cleber Rodrigues, da CNN, no Rio de Janeiro
Queima de fogos na praia de Copacabana no Réveillon de 2019
Queima de fogos na praia de Copacabana no Réveillon de 2019  • Foto: Gabriel Monteiro - 1.jan.2019/ Secom/ Agência Brasil
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Se o otimismo da prefeitura do Rio de Janeiro projeta o “Réveillon do século”, a cautela dos pesquisadores avalia que o anúncio é “precipitado”. Especialistas ouvidos pela CNN Brasil afirmam que eventos como o Réveillon em Copacabana, que reúne cerca de 2 milhões de pessoas, só podem ser realizados após a imunização completa da população e com a variante Delta controlada sob o aspecto da disseminação.

Até esta sexta-feira (6), dos 460 casos da variante Delta confirmados no Brasil, 203 eram no Rio de Janeiro. Para o médico infectologista, pesquisador da Fiocruz e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Julio Croda, a propagação da variante é um fator de risco. 

“No momento que você tem um aumento da variante delta e ela se torna predominante no município do Rio de Janeiro e no estado do Rio de Janeiro, muito difícil a gente prever como vai estar a situação epidemiológica da cidade do Rio de Janeiro no réveillon. Então a gente vai ter que acompanhar, vai ter que acompanhar a dinâmica da doença e decidir isso mais perto da data específica. É muito difícil a gente ter o anúncio agora, fazer qualquer previsão pra dezembro e janeiro” avalia, Croda.

O pesquisador da UFRJ, Romulo Neris, também considera o anúncio precipitado.

“Não faz sentido nenhum abolir o uso de máscaras ou favorecer aglomerações nesse momento, no Rio de Janeiro. Vale lembrar que a pandemia não acabou. A gente vive em um país de proporções gigantescas, Indivíduos são livres para trafegar no território nacional. Podemos acabar vendo o mesmo cenário do ano passado, com aumento de casos nas capitais, depois o número de óbitos e casos diminuiu, mas cresceu no interior e, em seguida, voltou a aumentar nas capitais, exatamente pela facilidade do fluxo. Não temos indicadores que favoreçam a retomada de todas as atividades agora e ainda é difícil projetar quando será possível fazer isso”, alerta Neris. 

Na quinta-feira (5), 11 entidades de profissionais de saúde apresentaram uma nota, em que criticam a intenção de flexibilizar as medidas restritivas em um momento de crescimento da variante Delta. De acordo com dados da Secretaria de Estado de Saúde, confirmados pelo município, a linhagem originária da Índia é responsável por 45% dos casos da doença ocorridos na capital, e já ameaça a prevalência da Gamma, linhagem originária de Manaus. 

"O município ocupa trágicos primeiros lugares nos rankings de letalidade nacionais e internacionais. Em 3 de agosto de 2021 a letalidade por Covid-19 (7,62%) é superior às taxas dos municípios de Manaus (4,72%) e São Paulo (3,932%), segundo informações do Monitora Covid-19, da Fiocruz”, diz trecho da nota. 

Na divulgação do Boletim Epidemiológico desta sexta-feira(06) o prefeito do Rio, Eduardo Paes, comentou a publicação do edital para o Réveillon 2022.

“Tudo aponta para a enorme possibilidade de termos Réveillon esse ano. Não dá pra preparar um evento desse em um mês. Então vamos trabalhar para o réveillon como se ele fosse acontecer. Respeitando os prazos de licitação e todo o procedimento administrativo de organização. Seria incoerência se eu estivesse fazendo uma festa de réveillon amanhã, uma insanidade. A gente espera daqui a cinco meses estar todo mundo vacinado com as duas doses, os idosos com a terceira”, disse ele.