PF analisa caligrafia de livro “proibido” supostamente de Tiradentes

Obra passará por exames grafológicos, com parceria do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), por meio do Museu da Inconfidência (MG)

Guilherme Gama, da CNN, São Paulo
O “Livro de Tiradentes” é uma coletânea das leis constitutivas dos Estados Unidos da América, que influenciaram diretamente a Inconfidência Mineira.  • Instituto Brasileiro de Museus (Ibram)
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O Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal (PF), em Brasília, vai analisar o livro “Recueil des Loix Constitutives des États-Unis de l’Amérique” — conhecido como Livro do Tiradentes — para confirmar a autoria da obra considerada proibida na época

A obra deve passar por exames grafológicos no Serviço de Perícias Documentoscópicas (SEP-DOC) para verificar se as anotações presentes em seu interior são, de fato, de autoria de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, conhecido pela Inconfidência Mineira — movimento de rebelião contra o domínio português no Brasil, no século 18. 

O livro é uma das peças mais emblemáticas em acervos brasileiros e fica sob os cuidados do Museu da Inconfidência (MG), que fez a entrega, junto do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), à PF, neste mês. 

O “Livro de Tiradentes” é uma coletânea das leis constitutivas dos Estados Unidos da América, que influenciaram diretamente a Inconfidência Mineira, de acordo com o diretor do museu, Alex Calheiros.

Há indícios nos Autos da Devassa, documentos judiciais da coroa portuguesa que incriminou os inconfidentes, de que Tiradentes fazia anotações a mão no exemplar.

Publicado entre entre 1776 e 1789, o livro foi identificado como influência direta para os conjurados mineiros é citado diversas vezes nos Autos da Devassa, de acordo com o Ibram. 

A peça é considerada central na história da Conjuração Mineira pelo historiador Kenneth Maxwell. A obra esteve com Tiradentes no momento de sua prisão e contém anotações manuscritas que, segundo relatos, teriam sido feitas por ele próprio — que recorria a amigos para traduzir trechos do francês e marcava passagens que mais o interessavam.

“Se confirmada a autoria das anotações, o valor histórico, patrimonial e afetivo do bem se eleva enormemente, oferecendo novas camadas de entendimento sobre a atuação de Tiradentes e o pensamento iluminista que influenciou a Inconfidência”, afirma Calheiros.