Bolsonaro recebe mais doações, mas recursos têm peso menor do que em 2018
Presidente da República, candidato à reeleição, tem 39% de campanha bancada por apoiadores; nas últimas eleições, repasse representou 86%
O presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), já recebeu mais doações de apoiadores para a campanha eleitoral deste ano do que em 2018, até o momento. No entanto, esses recursos têm hoje um peso menor em sua arrecadação total do que na eleição em que se elegeu ao Planalto.
Neste ano, o presidente recebeu R$ 10,7 milhões em doações de pessoas físicas. O valor representa 39.05% dos R$ 27,4 milhões recebidos para bancar a corrida ao Planalto até agora, segundo dados apresentados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele ainda não recebeu recursos por meio de financiamento coletivo.
Em 2018, Bolsonaro recebeu R$ 4,4 milhões para toda a campanha – menos de seis vezes o total arrecadado para este ano – e se amparou em financiamentos coletivos e doações de pessoas físicas para viabilizá-la. A primeira modalidade arrecadou R$ 3,7 milhões, enquanto a segunda arrecadou R$ 45,8 mil. Juntas, representaram 85,98% dos recursos arrecadados.
Os números apontam que as doações da militância ainda representam uma fatia significativa para a campanha de Bolsonaro, mas sem a força anterior. Ao contrário de 2018, a campanha de 2022 vai depender majoritariamente de repasses partidários.
Repasses partidários aumentam de 14% para 60,5% do total
Quando Bolsonaro concorreu ao Planalto pela primeira vez, os valores arrecadados por meio de partidos representaram somente 14% de sua campanha. R$ 507,9 mil partiram do PSL (partido ao qual era filiado e que, posteriormente, se fundiu com o DEM para se tornar o União Brasil) e R$ 107,4 mil saíram do PRTB (então partido de seu vice, Hamilton Mourão, hoje no Republicanos).
Desta vez, o presidente tem 60,5% da campanha à reeleição bancada por partidos políticos até o momento. Somente do PL, a própria sigla de Bolsonaro, ele recebeu R$ 15,6 milhões. O PL é o maior doador único do presidente. Bolsonaro também recebeu R$ 1 milhão do PP, que o apoia no pleito.
O cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Sérgio Praça avalia haver diferenças no perfil de Bolsonaro em 2018 e agora. Na outra eleição, Bolsonaro era considerado um outsider buscando a Presidência. Hoje é um mandatário com experiência de poder no Executivo, tem mais apoio do centrão e mais possibilidades com a máquina pública por trás.
Também lembra haver diferenças entre as capacidades do PSL, um partido nanico em 2018, que depois cresceu na onda de Bolsonaro, e do PL, um dos principais partidos do país com grande capilaridade.
Outro ponto, ressalta, é que agora há tanto dinheiro do fundo eleitoral e do fundo partidário que os candidatos não estão mais tão preocupados em conseguir dinheiro de apoiadores.
“Os partidos já têm muito dinheiro e podem bancar a maior parte das campanhas com mais facilidade.”
Aumento do fundo eleitoral
Desde 2018, as campanhas eleitorais vêm sendo financiadas por um fundo com recursos públicos, criado após o Supremo Tribunal Federal (STF) considerar as doações de empresas inconstitucionais.
O montante de recursos fornecidos por partidos políticos saltou de R$ 131,7 milhões em 2018 – em números corrigidos pela inflação no período, R$ 164 milhões – para R$ 202,8 milhões em 2022. Ou seja, os partidos políticos estão bancando muito mais as campanhas de seus candidatos à Presidência da República.
De modo geral, as campanhas custaram R$ 201 milhões – em números corrigidos pela inflação, R$ 251 milhões. Neste ano, a declaração parcial já dá conta de R$ 214 milhões arrecadados. Em 2018, porém, havia 12 candidatos, enquanto neste ano há 11.
Em 2018, além dos recursos de doações de terceiros e dos partidos políticos, um dos candidatos, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que era do MDB e hoje está no União Brasil, aplicou uma alta quantia de recursos próprios – R$ 57 milhões –, o que elevou as receitas de campanha na época.
Para 2022, o Congresso Nacional ampliou o fundo eleitoral de R$ 1,7 bilhão – valor em 2018 – para R$ 4,9 bilhões. Em 2020, o fundão já havia sido aumentado para R$ 2 bilhões.
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O presidente Jair Bolsonaro (PL) participa de solenidade no Palácio do Planalto, em Brasília - 20/06/2022 • CLÁUDIO REIS/PHOTOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
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Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente, governou o país entre 2003 e 2010 e é o candidato do PT • Foto: Ricardo Stuckert
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O candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT) tenta chegar ao Palácio do Planalto pela quarta vez • FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
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Simone Tebet cumpre o primeiro mandato como senadora por Mato Grosso do Sul e é a candidata do MDB à Presidência • Divulgação/Flickr Simone Tebet
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Felipe d'Avila, candidato do partido Novo, entra pela primeira vez na corrida pela Presidência • ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
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José Maria Eymael (DC) já concorreu nas eleições presidenciais em 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018, sempre pelo mesmo partido • Marcello Casal Jr/Agência Bras
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Vera Lúcia volta a ser candidata à Presidência da República pelo PSTU. Ela já concorreu em 2018 • Romerito Pontes/Divulgação
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Leonardo Péricles, do Unidade Popular (UP), se candidata pela primeira vez a presidente • Manuelle Coelho/Divulgação/14.nov.2021
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Sofia Manzano (PCB) é candidata à Presidência da República nas eleições de 2022 • Pedro Afonso de Paula/Divulgação
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Senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS), candidata à Presidência da República - 02/08/2022 • ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
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Padre Kelmon (PTB) assumiu a candidatura à Presidência após o TSE indeferir o registro de Roberto Jefferson (PTB) • Reprodução Facebook
Lula e 3ª via não empolgam militância para doações
Os dados do TSE mostram que, neste ano, as doações feitas por pessoas físicas ficaram muito mais concentradas na campanha de Bolsonaro, como mostrou a CNN.
Os demais candidatos não empolgaram a população e arrecadaram apenas cerca de R$ 1,2 milhão por meio de doações de terceiros ou de financiamento coletivo neste ano até o momento.
Até esta quarta-feira (21), o candidato à Presidência do PT e principal adversário de Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva, havia recebido cerca de R$ 250 mil de doação de pessoas físicas e R$ 439,8 mil por meio de financiamento coletivo, equivalente a apenas 0,28% e 0,49% do total recebido por ele até o momento.
A maior parte de sua campanha está sendo bancada com recursos do PT: R$ 88,1 milhões. Ao todo, Lula já recebeu R$ 89,8 milhões para a campanha na tentativa de retornar ao Palácio do Planalto.
Ciro Gomes (PDT) recebeu apenas R$ 8,8 mil de doações de pessoas físicas e R$ 88,8 milhões de financiamento coletivo. Juntos não representam 0,4% do total de R$ 32,1 milhões recebidos até o momento. Do montante, R$ 32 milhões foram repassados pelo PDT.
Simone Tebet (MDB) recebeu, ao todo, R$ 36,7 milhões até o momento. Destes, o MDB foi responsável por R$ 30 milhões. O PSDB arcou com R$ 6,5 milhões. A única pessoa física a doar para a candidata é Tasso Jereissati (PSDB-CE), seu colega de Senado que foi cogitado para ser vice na chapa, com R$ 200 mil, equivalente a 0,54% do total.
Soraya Thronicke (União Brasil) tem R$ 70 mil de doações de pessoas físicas dos R$ 22,1 milhões recebidos, dos quais o maciço foi repassado pelo União Brasil. Felipe D`Ávila (Novo) contabiliza R$ 1,2 milhão para a campanha, do qual pouco mais de R$ 1,1 milhão foi repassado pelo Novo. O candidato recebeu R$ 130 mil de doação de pessoas físicas.
Os dados são relativos aos apresentados ao TSE até quarta-feira (21) e podem mudar até o final da contabilidade financeira das campanhas.
Em 2018, quando Bolsonaro também liderou os números de doações de pessoas físicas, os demais candidatos conseguiram, ao todo, R$ 8,2 milhões dos bolsos de militantes e outros apoiadores.
Os que mais se aproximaram de Bolsonaro em 2018 quanto à independência perante recursos de partidos foram Alvaro Dias (Podemos) e João Amoêdo (Novo). Ainda assim, nenhum chegou a ter mais de 39,25% da campanha bancada por terceiros que não os próprios partidos ou siglas aliadas.