CCJ deve analisar projeto que dá poder a estados para legislar sobre matéria penal

Texto atribui competência a estados e vai na contramão da PEC da Segurança Pública elaborada pelo Executivo

Emilly Behnke, da CNN, Brasília
Projeto em análise na CCJ permite que leis estaduais ou distritais definam punições, incluindo prisões e outras penas restritivas de direitos  • 13/11/2024 - Bruno Spada / Câmara dos Deputados
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A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara deve analisar nesta terça-feira (26) projeto que delega aos estados e ao Distrito Federal a competência de legislar sobre matérias penais. O texto é o primeiro item da pauta da reunião marcada para às 14h30.

A proposta vai na contramão da chamada PEC da Segurança Pública, elaborada pelo Executivo e apresentada a governadores no fim de outubro. O anteprojeto proposto pelo governo prevê dar mais competências à União para estabelecer diretrizes gerais sobre a política nacional de segurança pública e defesa social, inclusive sobre o sistema penitenciário.

Na prática, o projeto em análise na CCJ permite que leis estaduais ou distritais definam punições, incluindo prisões e outras penas restritivas de direitos. Segundo o texto, os estados e o DF poderão legislar sobre temas penais “desde que de forma mais gravosa do que a prevista na legislação federal”.

A proposta também permite que as unidades da federação possam definir sobre:

  • regimes de cumprimento de pena, como regras para fixação do regime inicial e para progressão;
  • requisitos para concessão de livramento condicional;
  • formas de cumprimento das penas restritivas de direitos;
  • critérios para a substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos.

O autor do projeto é o deputado Lucas Redecker (PSDB-RS). O relator na comissão, deputado Coronel Assis (União-MT), propôs ajustes no texto “a fim de reduzir a sua abrangência” e não extrapolar as previsões constitucionais. Atualmente, segundo a Constituição Federal, apenas a União pode editar leis sobre direito penal e processual.

A proposta já teve prazo de vista decorrido (período adicional para a análise) e já pode ser votada. Para tentar adiar a votação, deputados governistas contrários ao projeto devem adotar como estratégia o chamado “kit obstrução”, que inclui instrumentos para atrasar discussões e votações.

No último sábado, governadores do Sul e do Sudeste lançaram, neste sábado, a “Carta de Florianópolis”, na qual manifestam oposição à PEC da Segurança Pública proposta pelo governo Lula.

O texto elaborado pelo Executivo ainda não foi oficialmente apresentado no Congresso. A PEC prevê, entre outras medidas, a inclusão de um Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) na Constituição; a atualização de competências da Polícia Federal (PF) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF); e a constitucionalização do Fundo Nacional de Segurança Pública e Política Penitenciária.

Outras propostas

Também está na pauta da CCJ o projeto de lei complementar que altera a divisão das vagas na Câmara dos Deputados. A proposta altera o número de representantes de 14 unidades da federação, conforme os dados populacionais do Censo Demográfico de 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O texto, de autoria do deputado Pezenti (MDB-SC), mantém o número de 513 cadeiras totais, mas redistribui as vagas a partir das eleições de 2026. Das 27 unidades da federação, apenas 13 não teriam mudanças.

Em agosto do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) fixou prazo até 30 de junho de 2025 para que o Congresso aprove uma lei complementar sobre a revisão da distribuição das cadeiras de deputados em relação à população de cada unidade da federação.

PEC do aborto

Outra proposta incluída na pauta é a que proíbe o aborto no país, apresentada pelo então deputado Eduardo Cunha. O texto insere na Constituição o direito à vida “desde a concepção”. A matéria já teve prazo de vista decorrido e aguarda a votação. A relatora, deputada Chris Tonietto (PL-RJ), foi favorável à proposta e não sugeriu mudanças no texto.

Considerada prioritária para a presidente da CCJ, deputada Caroline De Toni (PL-SC), a PEC também está prevista na pauta da reunião de quarta-feira (27), como item único, caso não seja possível votá-la na terça.

O texto é alvo de intenso debate na comissão. Deputados governistas são contra a proposta, enquanto integrantes da oposição pressionam para que a PEC avance na Casa. Se for aprovada, ainda precisará ser analisada por uma comissão especial e, depois, pelo plenário.