Itamaraty vê Milei "colado" aos EUA e quer Alckmin na posse

Diplomatas creem que novo governo vai privilegiar a relação com o Washington, principal sócio do FMI

Caio Junqueira
Candidato presidencial do partido La Libertad Avanza, Javier Milei, fala durante debate final antes das eleições, realizado na Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires, em 08 de outubro de 2023
Javier Milei  • Foto de Agustín Marcarian - Pool/Getty Images
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Diplomatas brasileiros com quem a CNN conversou na manhã desta segunda-feira (20) relataram a percepção de que, nas primeiras horas após a vitória de Javier Milei, ter ficado claro que o foco inicial de seu governo na política externa será os Estados Unidos. Ao mesmo tempo, existe a expectativa de que o governo brasileiro envie Geraldo Alckmin à posse do novo presidente.

O motivo para a inclinação aos Estados Unidos, segundo relatos, é de que está em Washington a chave para a largada do novo governo argentino: a busca de condições econômicas para que ele inicie seu governo. Os Estados Unidos são os principais sócios do FMI, que emprestou US$ 44 bilhões de dólares ao país.

As informações que chegaram a diplomacia brasileira é de que Milei deverá visitar o país até mesmo antes da posse para evitar um default e melhorar as condições econômicas do país no início de seu governo.

Diplomatas responsáveis por essa interlocução com o novo governo argentino afirmaram à CNN que o momento é de “acomodação” e espera para que os nomes que conduzirão o governo Milei sejam definidos.

Antes mesmo do anúncio do resultado, como revelou a CNN, houve contatos dos brasileiros com o entorno de Milei, como Guillerme Francos, cotado para ministro do Interior, a vice Victoria Villaruel e a provável chanceler Diana Dondino. A avaliação é que esses contatos já foram abertos, e agora é preciso esperar as posições de cada um no governo.

Há a leitura também de que o convite feito por Milei para que o ex-presidente Jair Bolsonaro vá a sua posse é um indicativo claro de que não haverá pragmatismo na política externa. Chegou ao Itamaraty por exemplo a informação de que o ex-chanceler Ernesto Araújo, por exemplo, esteve no bunker de Milei neste domingo.

Muito embora diplomatas digam que não tenham sido surpreendidos com o convite, há uma expectativa de que a ala pragmática da coalizão de Milei representada pelo grupo do ex-presidente argentino Mauricio Macri possa ser atuante em alguns setores estratégicos, como economia e política externa.

Alckmin

Ainda assim, a diplomacia brasileira vê como necessário o envio, para a posse, de um representante de ponta do governo brasileiro, como o vice-presidente Geraldo Alckmin.

Além de ser discreto e de não ser conhecido do público argentino — um dos receios do entorno de Lula é ser vaiado pela ala mais dura de apoiadores de Milei—, Alckmin não é propriamente um político de esquerda.

Além disso, o Brasil tem de tomar uma decisão imediata com Milei até dezembro no que diz respeito à assinatura do acordo birregional Mercosul-União Europeia.

E, como ministro do Desenvolvimento e da Indústria, Alckmin tem interesse e responsabilidade direta pelo êxito desse acordo, razão por que também faria sentido que, pelo menos nesse primeiro momento, ele tomasse à frente da interlocução do governo brasileiro com a Argentina.