No STF, militares réus dizem que kids pretos sofrem perseguição

Núcleo 3 do plano de golpe é formado na maioria por militares das Forças Especiais do Exército

Davi Vittorazzi, da CNN, Brasília
Kids pretos teriam sido escalados para pressionar os comandantes militares para aderirem ao plano de golpe, segundo a PGR  • 06/09/2018 - Divulgação/Exército Brasileiro
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Militares réus do "núcleo 3" da ação que apura uma tentativa de golpe de Estado em 2022 disseram nesta segunda-feira (28) em depoimento no STF (Supremo Tribunal Federal) que integrantes das Forças Especiais, também conhecidos como "kids pretos", sofrem perseguição.

Segundo denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República), os kids pretos teriam sido escalados para pressionar os comandantes militares para aderirem ao plano de golpe com objetivo de manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder.

Em depoimento, o coronel do Exército Márcio Nunes de Resende Júnior negou que participou do plano de golpe e que não pressionou os comandantes. Ele afirmou que os militares sofrem "caça às bruxas às Forças Especiais".

Segundo o coronel, atualmente é mais "difícil" um militar subir de patente. "Um coronel a ser promovido a general neste momento é quase impossível", prosseguiu.

Na mesma linha, o tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo afirmou na oitiva que a acusação da PGR foi feita porque ele pertence a esse grupo.

"Eu acredito que estou sendo acusado porque sou Força Especial. Num contexto que se tornou grave pela Polícia Federal", disse Rodrigo Bezerra em depoimento.

Por sua vez, o tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira, também integrante do grupo e que foi impedido de participar do depoimento de farda, afirmou que existe uma percepção de que os kids pretos estão ligados ao golpe.

"O que todos que estão vendo que está acontecendo, a partir do momento que se decidiu que kids pretos são pessoas que tramam, que articulam, que criam redes complexas e integradas de conspirações, qualquer coisa que se faça vira uma reunião para um planejamento de golpe", disse o militar.

O que são os kids pretos

Os kids pretos são considerados os militares formados pelo Curso de Operações Especiais do Exército Brasileiro, treinados para atuar em missões sigilosas e em ambientes hostis e politicamente sensíveis.

A nomenclatura informal é dada por os militares utilizarem gorros pretos em operações — são caracterizados como especialistas em guerra não convencional, reconhecimento especial, operações contra forças irregulares e contraterrorismo.

Os kids pretos podem passar pelos treinamentos intensivos no Comando de Operações Especiais, em Goiânia, no Centro de Instrução de Operações Especiais, em Niterói (RJ), ou podem completar a formação em Manaus, na 3ª Companhia de Forças Especiais.

Quem são os réus do núcleo 3:

  • Bernardo Correa Netto, coronel preso na operação Tempus Veritatis, da Polícia Federal;
  • Estevam Theophilo, general da reserva e ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército;
  • Fabrício Moreira de Bastos, coronel do Exército e supostamente envolvido com carta de teor golpista;
  • Hélio Ferreira Lima, tenente-coronel do Exército e integrante do grupo “kids pretos”;
  • Márcio Nunes de Resende Júnior, coronel do Exército;
  • Rodrigo Bezerra de Azevedo, tenente-coronel do Exército e integrante do grupo “kids pretos”;
  • Rafael Martins de Oliveira, tenente-coronel e integrante do grupo “kids pretos”;
  • Ronald Ferreira de Araújo Junior, tenente-coronel do Exército acusado de participar de discussões sobre minuta golpista;
  • Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros, tenente-coronel;
  • Wladimir Matos Soares, agente da Polícia Federal.