Transparência para monitorar pandemia é insuficiente na maioria dos estados
Só Pernambuco teve desempenho considerado positivo, aponta relatório

A transparência sobre dados relacionados à disseminação do novo coronavírus é opaca ou baixa em 17 estados brasileiros. Essa é uma das conclusões de um relatório publicado nesta sexta-feira (3), pela Open Knowledge Brasil, braço brasileiro de uma entidade internacional que desenvolve ferramentas, projetos e análises de políticas públicas em busca de governos mais transparentes.
Segundo a Open Knowledge, apenas Pernambuco conta com um nível alto de transparência com 81 de 100 pontos, seguido por Ceará (69) e Rio de Janeiro (64), ambos considerados bons. O restante foi considerado médio, ruim ou opaco. A avaliação considerou as informações disponíveis na manhã de 2 de abril. O índice será atualizado semanalmente. São Paulo aparece em décima terceira posição, com desempenho considerado baixo (31).
Para fazer a avaliação, a organização considerou três fatores: conteúdo (idade, sexo, hospitalização dos pacientes confirmados, infraestrutura de saúde, testes disponíveis e aplicados), granularidade (se há dados individuais, mesmo que anonimizados, e detalhe de localização dos casos) e formato (publicação de painéis analíticos e planilhas editáveis, com a série histórica dos casos). Ou seja, quanto melhor a avaliação, mais dados estão disponíveis, e em formato fácil de ser entendido e usado. A nota vai de 0 a 100 e foi dividida nas seguintes categorias: opaco (0 a 19), quando há pouca ou nenhuma transparência, baixo (20 a 39), médio (40 a 59), bom (60 a 79) e alto (80 a 100), quando os dados divulgados são satisfatórios.
A organização destacou o fato de que não há informações sobre testes disponíveis nos estados — apenas um dos 28 entes avaliados informava esse dado. E nenhum estado informa quantos leitos, sobretudo em UTIs, estão ocupados em relação ao total.
Reportagem da CNN mostrou que o Brasil era um dos países com menos testes aplicados, mas os dados já estão defasados — os que foram usados se referiam ao dia 13 de fevereiro, divulgados pelo Ministério da Saúde, e não pelos estados. Sem essa informação, o número de casos confirmados pode ser enganoso, já que há muitos casos suspeitos sem teste, além dos testes que ainda estão na fila — mais de 10 mil em São Paulo, por exemplo.
Todas as avaliações feitas pela organização foram enviadas com antecedência aos estados. Seis deles responderam à organização — Amapá, Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Maranhão e Santa Catarina. Nenhum contestou a pontuação.
"O levantamento mostrou que os estados brasileiros e o ministério da Saúde ainda não se deram conta da importância da transparência em um momento crítico como esse. Os pesquisadores italianos publicaram um artigo na revista 'Lancet' denunciando como a falta de transparência naquele país atrasou o combate à COVID-19. Não queremos que o mesmo aconteça no Brasil", diz a diretora-executiva e responsável pelo estudo, Fernanda Campagnucci.
Para enfrentar o problema, o ministério da Saúde lançou, nesta sexta-feira (3), um painel para acompanhar dados sobre quantidade de leitos e insumos, como testes, máscaras, luvas, entre outros. Clique aqui para acessar.