Dengue pode deixar sequelas? Infectologista responde

Casos graves de dengue hemorrágica podem causar complicações de saúde e afetar coração, fígado e cérebro

Gabriela Maraccini, da CNN
O mosquito Aedes aegypti é o transmissor do vírus da dengue  • Joao Paulo Burini/Getty Images
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Conforme painel de monitoramento do Ministério da Saúde, o Brasil registrou 338.822 casos prováveis de dengue e 131 óbitos confirmados pela doença desde o começo do ano — destes, 102 ocorreram em São Paulo.

A dengue pode ser fatal em casos graves, principalmente no quadro hemorrágico. Esses casos podem levar a complicações de saúde diversas, afetando diferentes partes do corpo.

"Geralmente, a dengue clássica não causa sequelas, mas elas podem surgir com a dengue hemorrágica e se manifestarem após a infecção", explica Moacyr Silva Júnior, médico infectologista da Rede Plus, da Care Plus.

Os sinais de agravamento da dengue costumam aparecer após o 3º e o 5º dia de infecção e incluem sintomas como dificuldade para comer, vômitos frequentes, dor abdominal e presença de manchas vermelhas na pele. "Se entre o terceiro e quinto dia, a febre sumiu e a pessoa está tendo uma piora do estado geral, esse é o momento em que a dengue está piorando, levando a uma dengue hemorrágica", afirma o infectologista.

Os casos mais complicados são comuns nos grupos de risco, como crianças, idosos, pessoas com comorbidades pré-existentes, gestantes e imunossuprimidos. Veja, a seguir, as principais sequelas que podem ocorrer em decorrência da dengue grave.

Problemas hepáticos

A dengue hemorrágica pode levar a problemas no fígado, como a hepatite aguda, uma doença caracterizada pela inflamação das células hepáticas. Isso acontece porque o vírus pode afetar o funcionamento de diversos órgãos. Seus sintomas incluem náusea, vômito e cansaço.

"A dengue hemorrágica pode levar a uma hepatite aguda, podendo causar uma insuficiência hepática, e há alguns casos relatados em que houve a necessidade de transplante de fígado. Porém, são casos mais raros", afirma Moacyr.

Problemas cardíacos

A dengue, em sua forma mais grave, também pode levar a problemas cardíacos, principalmente em pacientes que já possuíam doenças cardiovasculares pré-existentes, como a miocardite, caracterizada pela inflamação de uma camada da parede do coração, e a insuficiência cardíaca, quadro em que o coração não consegue bombear sangue de forma adequada.

"Em casos graves, em que há uma exigência muito maior do sistema cardiovascular, o vírus da dengue pode levar ou piorar a insuficiência cardíaca, mas também não é comum", explica o infectologista.

Encefalite

A encefalite é uma das consequências mais graves da dengue. Ela é caracterizada por uma inflamação severa no cérebro e, geralmente, está associada a uma infecção por vírus, como é o caso da dengue.

“A encefalite relacionada à dengue pode ocorrer quando o vírus afeta diretamente o cérebro, causando uma resposta inflamatória. Isso acontece devido à capacidade do patógeno atravessar a barreira hematoencefálica, uma proteção que o cérebro tem contra microrganismos”, explica Diogo Haddad, neurologista do Hospital Nove de Julho.

Se não tratada, a encefalite por dengue pode levar à sequelas motoras e da fala, além de paralisia. Em alguns casos, podem levar ao óbito.